Nós
cristãos somos insistentes em apontar o orgulho e o egoísmo como os geradores
de todos os defeitos humanos. O ciúme e a inveja não escapam a essa regra.
Você
conhece alguma pessoa ciumenta? Não me refiro ao “ciúme comum”, daquele que
dizem que é o tempero do amor, embora seja desse que surge aquele outro que
iremos discursar nesse artigo. Falamos do ciúme doentio, que foge dos limites
do aceitável. O espírito imortal traz consigo, ao reencarnar, suas características
adquiridas no curso de muitas vidas. Essas características desabrocham logo na
infância na forma de tendências ou predisposição à doenças físicas e/ou
emocionais. Se a educação e o acompanhamento familiar não souberem detectar e
modificar essas tendências desde cedo, essas características se desenvolverão
livremente. Por esse motivo não somos a favor da frase: “Isso é coisa da
idade”. O ciúme trabalhado na infância não perpetuará e não evoluirá à fase
adulta. “Educai as crianças e não será precisa punir os Homens”.
A
formação da sua personalidade, na infância, apenas utilizou o seu material
espiritual. Por isso já mencionamos em outros textos que é emocional que
desperta o espírito adormecido em nós, portanto, é durante a formação de nossa
personalidade que iremos desenvolver nossas qualidades e defeitos, muitas
vezes, trazidos de existências outras.
Como
sentimento egoísta, o ciúme procura roubar a liberdade do outro, tenta
obrigá-lo a seguir por um caminho delimitado ou simplesmente aprisioná-lo. O ciúme
é um exercício enlouquecido de poder, de dominação e de aprisionamento do
outro.
A pessoa
ciumenta não sabe diferenciar imaginação e realidade, não sabe distinguir
fantasia e certeza. Uma brincadeira do(a) companheiro(a) pode ser transformar
numa discussão ou na frase: “Você não me leva a sério”. Motivo que as leva
assistir filmes românticos como se fosse a própria realidade. Na música “Esse
cara sou Eu” muitas mulheres doentes querem uma pessoa assim; as saudáveis e
com maturidade não. Qualquer dúvida em sua cabeça logo se transforma em
delírio. A vítima do ciumento se sujeita a ter seus pertences revistados em
busca de vestígios que nem imagina do que seja. Sendo o primeiro passo para
quem vive com o ciumento: a mentira, para evitar discussões. O ciumento tem
ciúme do passado do outro, dos seus relacionamentos anteriores, e vive
imaginando detalhes sobre fatos verdadeiros ou não.
O que o
ciumento quer é o controle total e absoluto dos sentimentos, da atenção e do
comportamento em geral do outro. O outro passa por situações vexatórias e
bizarras, isso quando não impera a violência. Quantos crimes passionais devem
sua origem ao ciúme doentio? Vivemos hoje uma violência assustadora nos
relacionamentos afetivos, provocado quase sempre pelo ciúme e que muitas vezes
acabam em tragédias. Quantos casos de mulheres que se sujeitam à violência
doméstica por depender emocionalmente ou economicamente do parceiro? Homens
imaturos emocionalmente também se tornam refém de mulheres ciumentas.
Ciúme não
é amor. Pode estar relacionado a amor, mas a um amor que está doente. Quando o
amor adoece nasce o ciúme. Ou como diria Freud: o ciúme é o amor invertido ou o
amor que enlouqueceu. É um sentimento profundamente egoísta que envolve um medo
insuportável de perder o parceiro para outra pessoa ou para o mundo. Mesmo que
essa pessoa só exista na imaginação do ciumento. O ciumento é alguém com a
autoestima baixíssima, que não confia em si e nos seus sentimentos. Julga o
outro pelos seus pensamentos mórbidos. É possessivo, calculista, perfeccionista
e sempre se apresenta como vítima (síndrome de “vitimismo” já mencionado em
outro artigo nesse mesmo jornal – edição de 26/09/13).
O ciúme,
assim como outros sentimentos como raiva, mágoa, inveja, desencadeia uma série
de doenças. Essas doenças podem se manifestar já nesta encarnação ou acompanhar
o espírito imortal até uma próxima oportunidade na matéria para expurgar essas
energias negativas, esse lixo mental e emocional.
É
importante que o ciumento e sua vítima se conscientizem da necessidade de
ajuda. Parece claro que, além da própria personalidade desajustada do ciumento,
há interferência de espíritos obsessores nessas situações, como podemos
observar no livro “Ninguém é de Ninguém”. Mas de nada adianta tratamento
desobsessivo ou ajuda profissional se não houver o propósito firme de uma
renovação interior que se faz “mister”. Só com a vontade real de se ajudar, de
colaborar consigo mesmo, pode ser efetivada uma melhoria significativa. Isso
vale para o ciumento e também para o seu parceiro, que é vitimado pelo seu
ciúme. Nunca é demais lembrar que ninguém é vítima por acaso. O acaso não
existe. Tudo o que nós colhemos é o que um dia nós plantamos. Ninguém está com
alguém vítima do acaso. Mas é sabido que aquela pessoa que vive com o ciumento
tende a se tornar um fraco e um dependente da possessividade do ciumento. Um
escora na fraqueza do outro e ambos adoecem.
Por isso,
o ciúme é considerado um demônio perturbador e desestruturante da personalidade
onde o indivíduo vive o que acha que é, mas não tem certeza, mas que também não
pode ser de outra forma. Não há ciúme sem inveja e insegurança. O ciumento por
amor a vida (e não amor a si mesmo), deseja amar e se não o consegue passa a
agredir-se e a agredir o seu companheiro(a) sem racionalizar.
O
não-ciumento sabe o que estamos falando.
O que
gera o ciúme é o “desejo obsessivo”… O que alimenta o ciúme é o frustrar-se.
Gostaria de trazer para reflexão sete comportamentos ciumentos destrutivos na
visão de um mentor espiritual ou de minha própria mente isso não é importante,
o que importa é a reflexão do ciumento para uma possível mudança de si mesmo:
Primeiro:
Ciumento queixoso – é aquele que implora, falando ou em
silêncio, o amor que pensa não receber. Usa de agressividade com pitadas de
covardia, pois se esmera em ofender dissimuladamente, fica sempre cutucando.
Retira o que sustenta (material ou não) o outro como forma de mantê-lo sobre
controle, sob sua dependência.
Sente-se
ofendido e frustrado e é capaz de interpretar um papel, com cena e tudo, para
demonstrar sua insatisfação, vive num mundo imaginário por ele mesmo criado.
Segundo:
Ciumento carrancudo – introvertidos e desconfiados por
natureza, demonstram grande imaturidade afetiva, ficando “de tromba” quando o
companheiro não corresponde. Usa o silêncio e a frieza para revidar a não
correspondência. Faz greves intermináveis. Sua atitude de fuga o torna um
ciumento crônico, pois não se confronta com o motivo que o faz ressentir-se.
Está sempre “querendo” conversar; mas fica sempre em silêncio.
Terceiro:
Ciumento barraqueiro – com o dedo em riste, este ciumento,
meio maníaco, meio paranóico, explica minuciosamente os motivos de suas
desconfianças. Se sente prejudicado por não ser amado como gostaria. Acusa e
faz vexame em público. Usa frases insultantes, agressivas e são chamados de
imperialistas do amor.
Não
admitem que o seu par seja daquele jeito, que o ame daquela maneira, tem de ser
como ele quer. Policia o comportamento e as atitudes do companheiro, e este
“coitado” vive eternamente num salto alto. Intimida e usa o ciúme como uma arma
para justificar sua agressividade. Tudo que o companheiro faz para os outros é
motivo de recriminação, uma simples atitude de educação já é motivo para fazer
“barraco”.
Quarto:
Ciumento autopunitivo – é o ciumento que se sente infeliz
por amar, julgando não ser amado. Inflige-se a própria tortura da desconfiança
e se pune se afastando de quem diz gostar. Dispõe-se a desaparecer se for
preciso. Deixa de comer e tenta o suicídio de maneira que não morra. Cria todas
as facilidades para que o outro o traia, para dizer: “a culpa é sua”, criando
uma armadilha para o outro. Chega ao absurdo de apresentar pessoas para o outro
a fim de que seja traído. Testa a si mesma para autopunir-se. É um grande
candidato a doenças como: enxaqueca, aumento colesterol, dores de cabeça
crônica, manchas na pele, problemas renais graves, câncer de mama, etc..
Quinto:
Ciumento vingativo – este é da época de Moisés: “- Olho
por olho, dente por dente”. Pensa: “Me traiu… me aguarde”. Se se sente
abandonado, restitui o sofrimento que se julga vítima, compete com o par e
imagina represálias para punir a quem julga amar. A frase para este ciumento:
“Aqui jaz o cadáver do amor”.
Sexto:
Ciumento oculto – é aquele que fala o tempo todo que não
tem ciúme, que sua vida não depende de ninguém. Não se permite de maneira
alguma ser feliz, tem tudo para ser feliz; mas precisa ocultar sua felicidade
para continuar alimentando seu ciúme patológico “oculto”. Está sempre
procurando alguma “ocupação fora” para não ficar consigo mesma. É uma pessoa de
poucos amigos; mas ao mesmo tempo sempre tem muita gente lhe rondando pela sua
manipulação e até por usar seu potencial financeiro para ter amigos. Vive
reclamando que não tem tempo e que todos dependem dela, ocultando a sua
necessidade de ser necessitado. Pois sem a necessidade dos outros ela
simplesmente não existe, por isso é manipuladora e sabe fazer isso com
precisão.
Sétimo:
Ciumento misto – o que é ainda mais triste, muitos
ciumentos mesclam estes seis tipos acima citado, ora é um ora é outro, quando
não todos ao mesmo tempo. É na verdade um ciumento crônico e precisa da
infelicidade para manter-se no “comando” e, não raro, é um escravo do mundo das
trevas.
O ciúme
pode se transformar em patológico se apresenta aspectos destrutivos no modo do
indivíduo se relacionar. O Amor pré-estabelece confiança e desejo de união.
A lei de
causa e efeito rege os sóis, as estrelas, os planetas, os seres vivos e tudo
mais. O ciumento torna-se ao mesmo tempo causa e efeito de si mesmo. Mas está
sempre a culpar o outro pelo seu fracasso afetivo e emocional. O ciúme é uma
reação (efeito) a frustração produzida pelo orgulho mal elaborado, mal vivido.
É na
maioria das vezes uma pessoa caridosa e dotada de grandes qualidades, porém, se
deixa levar pelas fantasias do ego que a aprisiona na dor e no sofrimento.
Torna-se comumente uma escrava de seu próprio ego. Toda caridade tem de ser
vista pelos outros, pois precisa da aprovação alheia para continuar sua luta a
favor da infelicidade. É possuidora de uma “alegria triste”, por estar sempre
rindo por fora e chorando por dentro.
O ciúme é
o reflexo da frustração de não conseguir amar como se deseja. É uma forma
egoística e narcísea de encarar a relação de amor. Ciúme não é amor exagerado,
é amor mal compreendido, mal canalizado, mal resolvido. Ciúme é amor doente.
Ciúme é o amor as avessas.
O objeto
do amor não é o outro, é algo que ele acha que é o outro.
O ciúme
está envolvido com as nossas encarnações passadas e talvez seja uma perda muito
grande que tivemos e por não querer perder de novo, vivemos inseguros achando
que perderemos de novo assim como no passado. É como se fosse uma autodefesa,
uma tentativa de bloqueio a perdas futuras.
Talvez
seja até alguma pessoa muito querida nossa que fugiu ou partiu com outro e por
isso reencarnamos inseguros de tudo e de todos. Pode ser o caso de que estes
ciumentos incontroláveis possam ter sido suicidas que para não ficarem sozinhos
e abandonados se suicidaram e agora tem que passar por tudo de novo para
mostrar que estão recuperados.
O ciúme
com certeza tem a ver com encarnações passadas e com grandes perdas e muita
mágoa, porque hoje vemos que os ciumentos incontroláveis sofrem muito com uma
simples ‘possibilidade’ de perda, mesmo que seja coisa de sua mente, eles
sofrem com essa situação, os ciumentos não agem assim por prazer por querer
dominar, é uma coisa muito forte e para eles é uma atitude muito correta e
justa.
Lembrando
que existe o ciumento movido pelo egoísmo, que não tem só ciúmes de pessoas,
mas de objetos também e de tudo que outras pessoas possam vir a ter também.
Ciumento invejoso. E tem os ciumentos que só sentem isso por determinada
pessoa, como se fosse uma obsessão, onde para esta pessoa só existe uma coisa
importante neste mundo, a pessoa que eles tanto “amam”, outra pessoa não ser ou
tem aquela ou fica sozinha num canto maldizendo sua sorte no amor.
O
tratamento a base de remédios pode ajudar mas não de forma completa, já que é
uma deficiência do espírito. Com isso a pessoa para tentar amenizar a situação,
deve primeiro se reconhecer como uma pessoa ciumenta e a partir daí, buscar uma
ajuda psicológica, onde algum profissional desta área possa junto com o
ciumento tentar achar um ponto de equilíbrio.
Devemos
lembrar que a expressão de que o ciúme é o tempero do amor nada tem de correto.
Erradamente foi criada esta afirmação, ao meu modo de ver o ciúme não tem nada
a ver com tempero nenhum, talvez seja o tempero da discórdia, das brigas, da
infelicidade, da solidão, etc. Infelizmente as pessoas acham que quando
demonstram ciúmes a pessoa amada fica feliz e se sente assim mais importante
paro o outro. Acham erradamente que quem tem ciúmes do outro é porque ama, só
que este ciúme que faz tão bem no início pode vir a ser um empecilho ao
prosseguimento da felicidade.
O ciúme
pode e deve também ser visto como uma obsessão, onde a falta de controle e
certas atitudes exclusivas para com determinadas pessoas. Agora levando num
outro sentido a palavra obsessão, no sentido espiritual, acho que a obsessão
pode ser apenas um aliado para alimentar o ciúme, como um combustível, que só
queima se a máquina o processar, ou seja, a obsessão pode sim estar por de trás
de um ataque de ciúmes, mas na verdade é preciso muitas coisas acontecerem antes
para que um obsessor venha a nos incomodar e nos incentivar no ciúme. Lutar
contra o ciúme é o caminho para evitar este tipo de assédio. O ciumento é um
obsessor de quem julga amar.
Ao nos
analisarmos, tentando uma autolibertação, e nos deparamos com ciúmes nos parece
um desafio para vencermos o orgulho e nossa insegurança, ai estamos no caminho
certo; mas não vá sair voando pela janela, como uma borboleta. Autolibertação é
movimento para dentro. Gostaria de citar um pensamento interessante de Jung: “Quem
olha para fora, sonha, quem olha para dentro, desperta”.
O ciúme é um
sentimento escravizador, torturante, porque não existe ciúme no indiferente, no
insensível. Mas o amor exige mais, exige desapego, entrega, e não estamos
falando de amor carnal. Estamos falando de afeto. Somente que se libertou de si
mesmo pode compreender e viver o amor em sua plenitude.
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