Para quem sofre no cotidiano as graves consequências do momento
atual da nossa economia e acompanha com perplexidade a falta de articulação do
Executivo e Legislativo ante a grave crise nacional, não foi surpresa alguma a
revisão para 3% das previsões do FMI (Fundo Monetário Internacional) quanto à
queda do PIB brasileiro em 2015, seguida de retração de 1% em 2016.
O diagnóstico que
subsidiou a nova avaliação está correto, considerando o rebaixamento de nosso
grau de investimento por duas agências internacionais de avaliação de risco, o
rombo no orçamento da União para o próximo ano, a redução imensa dos
investimentos da Petrobras e a queda no nível de confiança do empresariado.
Enquanto retrocedemos, enfrentando pesada burocracia, juros fora
de propósito, impostos muito altos e uma legislação trabalhista antiquada,
engessada e superprotetora, a maioria dos países desenvolvidos e emergentes
cresce e nos deixa para trás.
Somente a Rússia, dentre as grandes economias, terá desempenho
pior do que o do Brasil este ano. Na América do Sul, apenas a Venezuela terá resultado
inferior ao nosso. Terminaremos 2015, segundo o FMI, como a nona maior economia
mundial. Perdemos duas posições, pois em 2014 estávamos em sétimo lugar. Fomos
ultrapassados pela Índia, que crescerá 7,3% em 2015, e a Itália. A China
avançará "apenas" 6,8%.
Como se não bastasse, ainda estamos sendo os
"culpados", no estudo do FMI, pela retração de 0,3% da América Latina
e do Caribe. É a primeira vez, desde 2009, que a região passa por um processo
de recessão. Devido ao tamanho da economia brasileira, o nosso retrocesso de 3%
tem forte impacto em todo o continente. Relatório da Cepal (Comissão Econômica
das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe) contrasta um pouco com os
dados do Fundo Monetário Internacional, mas é congruente quanto ao desempenho
das economias na região, que prevê crescimento de 0,5% este ano.
No entanto, para a América do Sul a previsão é de recuo de 0,4%,
puxado pelo Brasil; a América Central e o México terão expansão de 2,8% e o
Caribe, 1,7%. Agora, o próprio governo brasileiro admite que a retração de
nosso PIB em 2015 será de 2,8%.
Percebe-se que nosso país está carente de direção. Há uma
ansiedade do governo em encontrar soluções de emergência para reparar o abismo
fiscal que ele próprio provocou, gastando muito mais do que arrecada.
Porém, as medidas de contenção das despesas são frágeis, as
decisões são lentas e a solução acaba recaindo, como sempre, na desgastada e
equivocada fórmula de subtrair ainda mais recursos da sociedade e dos sistemas
produtivos, embora ninguém mais suporte aumentos de tributos no Brasil.
Além da crise político-econômica, ética e moral, a grave
conjuntura da economia nacional também se deve à ausência de planejamento de
médio e longo prazos em todas as esferas de poder.
Seguimos à base do improviso, com medidas cujo alcance nunca
ultrapassa o horizonte das próximas eleições e das campanhas eleitorais. São
decisões muitas vezes guiadas pelas pesquisas de opinião e raramente focadas no
futuro do país. Agora, repete-se o erro, com foco exclusivo na solução contábil
para o orçamento da União em 2016.
Mesmo que se consiga equilibrar as despesas e as receitas e se
produza um superávit primário no próximo ano, à custa de maior tributação das
empresas e pessoas físicas, a crise não se dissipará. Será apenas atenuada até
que a estrutura pouco eficiente do Estado volte a produzir déficit, num círculo
vicioso cada vez mais insustentável.
A solução real e concreta precisa ser baseada numa mudança séria
e profunda da cultura governamental, promoção de avanços estruturais nas
políticas públicas e construção de uma agenda para a economia e o
desenvolvimento, tornando o Estado brasileiro muito mais enxuto, eficiente,
menos intervencionista e muito menos burocrático.
O anúncio de um planejamento consistente e exequível, com visão
de médio e longo prazos, já ajudaria muito a combater a crise, pois resgataria
a confiança das empresas, famílias e consumidores.
O Brasil precisa de um projeto de país no qual se incluam a
redução dos impostos, efetiva responsabilidade fiscal, menores juros,
estratégia cambial bem calibrada, regras do jogo bem definidas e previsíveis,
política industrial horizontal e recursos disponíveis e mais baratos para
financiamentos produtivos.
Quem trabalha e produz precisa de um horizonte e terreno firme
para caminhar. Está na hora de se deixarem de lado disputas e interesses
pessoais para assumirmos de fato o compromisso de um pacto de governabilidade,
pensando no futuro do Brasil e seus valorosos cidadãos.
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