Há alguns anos David
Coimbra sugeriu que seria um erro indicar a leitura de Machado de Assis para
adolescentes. Imagino o que aconteceria na Alemanha, caso algum jornalista
ousasse desaconselhar a leitura de Goethe nas escolas do país. O nosso
jornalista afirmou que a leitura dos clássicos desencoraja o hábito de ler, por
causa da linguagem de época, que não tem eco junto à juventude. Não vi
acontecer manifestações importantes com relação à coluna em ZH, nem uma
retratação dele.
O que deveria ser
abordado no meio jornalístico é o fato de que só vinte e sete por cento das
escolas no Brasil têm uma biblioteca. Isso impede que Machado de Assis seja
lido. O jornalista certamente conta com o despreparo das nossas crianças,
privadas do que é essencial para entenderem Machado, o que seria a causa de não
gostarem de ler nada.
Não podemos concordar
com o pressuposto de que os clássicos são obras de conteúdo inalcançável. Todas
as crianças que contam com um intermediário, alguém capaz e apaixonado aprende
a gostar de ler e aprende a discernir o que seja uma linguagem rebuscada e
clássica, da linguagem comum, coloquial. A nossa língua é perfeitamente
inteligível, mesmo a de séculos atrás. O que não pode é privar os estudantes da
linguagem culta, seja ela de que época for.
Em uma excelente
matéria neste jornal, no dia 30 deste mês, as jornalistas Liliana Crivello e
Andressa Zorzetto (pagina 8), contam a trajetória de uma leitora de 16 anos,
Bianca, que frequenta a Biblioteca Pública. Bianca gosta de ler poesia,
romance, mitologia e os clássicos, por ter sido estimulada pela mãe.
Frequentadora da Biblioteca Pública acompanhou as mudanças ocorridas e que
culminaram em 2013, e, segundo ela, achar as obras de seu interesse ficou muito
mais fácil desde então.
As jornalistas Liliana
e Andressa ressaltam o fato de que o acervo antigo agrada, mas ele é
constantemente atualizado com obras novas, o que agrada muito à juventude. Ela
trazem o depoimento da diretora do Núcleo Livro, Leitura e Literatura da
Secretaria de Educação, Suzana Einloft Salles, que declara: “ Acredita-se que
mexer no espaço é perder a identidade e vimos que muitas pessoas que tinham o
hábito da leitura deixaram de ir até entender que o projeto era especialmente
para qualificar o acervo. Supreendentemente, eles entenderam a reforma e
retornaram. Além disso, conseguimos buscar o público jovem com a aquisição de
obras como Crepúsculo e Jogos Vorazes.”
O que chama a atenção é
o fato de haver uma mãe inteligente e antenada, que leva sua filha desde sempre
ao mundo da leitura. E essa filha leva uma amiga para o mesmo mundo apaixonante
que ela conheceu pela mão da mãe. Há duas jornalistas na nossa cidade que
captaram o espírito que permeia uma biblioteca, conhecendo Suzana Einloft
Salles, uma rica intermediária entre o livro e o leitor, uma figura incansável
e de uma fertilidade de causar inveja. A Academia Passo-Fundense de Letras já
foi beneficiada com seu trabalho competente em alguns projetos.
Nós os pais sempre
sabemos do que nossos filhos necessitam. Por vezes identificamos as
necessidades, mas não temos tempo para supri-las, o que nos leva a simplificar
nossas ações, levando-os a shopping ou fornecendo tecnologia de ponta para que
se divirtam e preencham seu tempo livre. Ou tratamos de preencher o tempo deles
com atividades extra classe para que apendam idiomas e tantas outras coisas que
eles podem fazer sem que estejamos junto.
Mas, a prerrogativa de
acompanhar a atividade mais importante que é a de ler e ler com qualidade, é
dos pais. Somos impulsionadores na medida em que lemos para eles, em que nos
veem lendo, em que usamos uma fatia do nosso tempo para tratar do assunto.
Joelmir Betting certa feita declarou ser um leitor compulsivo e, mais, disse
que já viu muita gente arrepender-se de não ter lido, mas nunca o contrário.
David Coimbra que me
perdoe, mas ele pisou feio na bola, mesmo sendo tão inteligente e bem
intencionado. Em contraponto, moramos em uma cidade que concretiza ações
importantes, para que o título de Capital Nacional da Literatura, um dia, seja
concretizado com louvor.
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