Periodicamente, o cinema revisita clássicos da literatura, dando
chance a que desfrutemos de um novo enfoque, um novo jeito de perceber a vida e
os sonhos que são eternizados na tela grande.
É o que está acontecendo com
o filme em cartaz, O Pequeno Príncipe. Baseado num livro infantil com mensagem
para adultos, publicado por Saint-Exupéry, ainda durante a 2ª Guerra Mundial
(1943), cativou gerações e, mesmo hoje, passar os olhos por suas poucas e
densas páginas e desenhos é como mergulhar num turbilhão de emoções, reflexões
e contínua busca de nossas origens, assim como do nosso destino.
Na nova versão, uma mãe quer encaminhar a filha "bem na
vida". Para isto, acha que ela precisa começar a ter disciplina de adulta
em miniatura, com compromissos, aprendizados e comportamento típicos. Mas...
sempre há um "mas"... próximo mora um velho que resolve provocar a
menina para uma aventura diferente e colocar o seu mundo de cabeça para baixo.
Evoca a figura típica do
contador de histórias que sobrevive desde os menestréis, atravessa as rodas em
torno das fogueiras, até o pai ou a mãe que julgam não ser perda de tempo
sentar na beira da cama de uma criança e estimular a sua imaginação.
O instigante é que, pelos olhos deste vizinho, a garota encontra
o Pequeno Príncipe e a sua saga desde que se desentendeu com sua rosa, em seu
pequeno asteroide, percorrendo diversos planetas até chegar à Terra. Mais de 60
anos depois, o escritor e aviador desencadeia bons motivos para resgatar linhas,
sentenças, situações, relações, figuras que o tempo pode esmaecer, mas não
consegue apagar.
Nos ecos da memória, passam frases como: "tu te tornas
eternamente responsável por aquilo que cativas"; "só se vê bem com o
coração, o essencial é invisível aos olhos"; ou ainda "amar não é
olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção", entre tantas
outras que lemos, um dia ouvimos alguém citar ou, quem sabe, murmuramos no
ouvido de quem quisemos bem...
Estas frases, assim como muitas outras, na essência dizem a
mesma coisa: é preciso cativar! Não é a arte mais fácil. Normalmente, usamos
como escudo a desculpa de que os outros são difíceis e que fica melhor quando
nos ensimesmamos. Fechados, nos protegemos contra tudo e contra todos. Mas não
se pode ficar assim por muito tempo. Tocando a vida, a jornada se apresenta com
longos períodos de caminhada, muitas quedas e, sempre, a esperança de que, ao
levantar, haja um novo rumo na estrada!
Em 2004, encontraram no Mar Mediterrâneo restos de fuselagem do
que supostamente teriam sido os destroços do avião que era pilotado por
Saint-Exupéry. Morreu em 1944, um ano antes do fim do conflito mundial.
Lamentei aqui a descoberta. Naquela época, como hoje, creio que há coisas que
ficam melhor quando são guardadas pela Eternidade.
Acreditava - e acredito - que na hora em que o avião perdeu
altitude e arremeteu em direção ao mar, uma mão pousou sobre o ombro do homem
angustiado por saber que era seu fim. Foi o suficiente para superar o medo e
todas as incertezas. O menino que o acarinhava tinha um olhar brilhante e a
certeza de que estava perto de reencontrar sua Rosa.
Apenas murmurou: "Estamos voltando pra casa. É um longo
caminho em meio às estrelas!"
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