Recentemente, temos
visto, em algumas cidades do País, o surgimento de movimentos “exigindo” a redução
da remuneração de agentes políticos. Estão acontecendo protestos dos mais
variados tipos e, muitas vezes, glamourizados pela mídia, como ocorreu
recentemente em uma cidade no interior do Paraná.
Tais manifestações
são perfeitamente compreensíveis, principalmente, no atual clima político e
econômico do País. É uma crise amplificada pelos grandes meios de comunicação,
dita como “a maior da história desse País”. Além disso, o corporativismo, a
faculdade de legislarem sobre os próprios salários, a fraca produção
legislativa e vários casos de corrupção, envolvendo tais agentes públicos, são
estímulos óbvios a que tais iniciativas populares ganhem força.
No entanto, um
raciocínio lógico mais apurado sobre tal questão aponta para o fato de que
focar, especificamente, na classe política, como sendo esta a grande mazela do
País é uma leitura, no mínimo, equivocada. Demonstrados acima, os fatores pelos
quais se compreendem a insatisfação da sociedade com alguns setores, cabe, por
outro lado, ressaltar que demonizar os políticos é um erro por inúmeros
aspectos pelos quais se possa examinar.
Inicialmente, é
importante frisar que, como em qualquer atividade, a remuneração está vinculada
à qualidade dos postulantes a qualquer cargo. Assim, se hoje já contamos, em
todas as esferas, com alguns representantes não tão capacitados, eventual
drástica diminuição dos vencimentos, obviamente, atrairia ainda menos pessoas
qualificadas para exercer certas atividades públicas.
Além disso,
transformar a política em um campo a ser “exorcizado” é equivocado, também pelo
simples, porém evidente, fato de que os políticos são meramente representantes
de toda a sociedade. Antes de serem vereadores ou deputados, por exemplo, eram
médicos, jornalistas, professores, advogados, agricultores... enfim, eram
“gente como a gente”.
Portanto, o louvável
combate a práticas condenáveis e à necessária moralização do ambiente político,
passa antes, obrigatoriamente, pelo expurgo de certas práticas comuns no seio
das sociedades. Afinal, desde estacionar (sem fazer jus) em vaga para portador
de necessidade especial ou furar a fila do cinema, até o suborno oferecido por
empresários, ou o médico que usa um “dedo de silicone” para fraudar a presença
em unidade de saúde. Todas estas são ações abjetas, e que não são praticadas
exclusivamente por agentes políticos.
Exercer a cidadania
é fundamental. Só assim estaremos evoluindo como sociedade, e reforçando o
Estado Democrático de Direito, pelo qual podemos ser, exercer nossas liberdades
e garantias. Mas, para isso, é preciso evitar cairmos em facilitismos ou
aventuras populistas, com resultados nem sempre proveitosos.
Além disso,
demonizar a política é investir justamente contra o que tirou o mundo da
barbárie e nos levou à organização, enquanto sociedade organizada. Convém
lembrar, por fim, que, onde termina a política, principia o abismo da tirania e
da guerra,
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