Sempre imaginei Paris como as pinturas de Manet, Renoir ou
Monet - surpreendente, colorida,"pleine de vie". Quando a visitei,
constatei que era ainda mais bela. Nada podia ser mais encantador: aquela
cidade magnífica, seus monumentos históricos, a Tour Eiffel, o Arco do Triunfo,
a Notre Dame, a Madeleine, a Place des Vosges, as pontes do Sena, o Louvre, os
cafés com os toldos coloridos e as mesas nas calçadas, as pessoas vivendo e se
divertindo num ambiente civilizado e num cenário lindo - um quadro impressionista
real do melhor da vida humana.
Na sexta-feira 13, o encantamento foi rompido. Explosões e
tiroteios, em ataques simultâneos, ensanguentaram a Cidade Luz. As ações
tresloucadas atingiram vários pontos da cidade, incluindo restaurantes e uma
badalada casa de espetáculos, Le Bataclan, invadida pela polícia para libertar
uma centena de reféns.
Sem dúvida, foi o mais mortal, covarde e bárbaro atentado
terrorista da história da França. Mas não foi o mais inopinado e
incompreensível nem o mais imprevisível. Desde 7 de janeiro último, quando dois
atiradores chacinaram uma dúzia de jovens jornalistas na redação do jornal
satírico Charlie Hebdo e um terceiro fuzilou clientes no mercado Hypercacher,
outros quatro atentados já haviam acontecido na terra de Montaigne, dos
iluministas e da "joie de vivre".
Com as tragédias de
Charlie Hebdo e da sexta-feira passada, o número de atentados na cidade
totaliza sete nos últimos dez meses - uma cifra impressiva recorde de 0.7
atentado por mês. Um absurdo! Francamente chocante!
Cada um no seu lugar. Os terroristas, recompensados pelo
eco internacional. As pessoas, com horror e medo. Muito medo. Quem estava
perto, morto ou severamente machucado. Uma certeza: haverá mais violência,
simplesmente porque muita gente acha que somente ela resolve. Mon Dieu!
Não importa a ideologia que defendam nem a crença que
professem, terroristas são a parcela mais repulsiva da raça humana. Matar
inocentes é um ato ignóbil e covarde. O mundo tende a ficar mais doente.
A ferocidade da ação apavora a França e desperta temor em
todo o mundo civilizado. E é exatamente isso o que os terroristas mais almejam:
o domínio pelo terror. Tanto que escolheram a dedo uma das maiores vitrines da
planeta terráqueo, a bela Paris, para exibir a sua insensatez.
Pior: sua insanidade. Diante dos fatos, caro leitor, é
essencial que os governantes e as autoridades dos países livres desenvolvam
planos de prevenção e de caça ao terror, esteja ele onde estiver.
Penso que não é necessário despachar na suntuosidade, hoje
sombria, do Palais d´Elysée para supor que semelhante panorama exija uma
resposta global. Malhereussement, isso está muito além da competência política
do presidente François Hollande.
A providência imediata foi o fechamento das fronteiras.
Tudo bem. Mesmo assim, nas circunstâncias atuais, acho difícil.
Não esqueçamos -
caramba! - de um detalhe: os irmãos Kouache nasceram no décimo arrondissement
de Paris, não longe das oficinas do jornal Charlie Hebdo - e na mesma região
das cenas de pavor da sexta-feira última.
Um dia, estou certo, as nuvens da intolerância
dissipar-se-ão. E Paris novamente voltará a sorrir!
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