Dilma Rousseff tem até esta terça-feira para
sancionar ou vetar a lei aprovada no Congresso que permite a suspensão de
vistos para estrangeiros na Olimpíada de 2016. A decisão será não apenas no
calor dos atentados em Paris e do medo que ronda o mundo, mas também sob a
pressão em sentido contrário do Turismo, que é a favor da lei, e da Defesa, que
tem lá suas dúvidas.
“Não podemos desperdiçar essa oportunidade
única, talvez a melhor em mais de uma década, de trazer turistas de todo o
mundo para conhecer o nosso país. O Brasil não perde nada e pode ganhar muito”,
defende enfaticamente o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves.
Pela lei aprovada sem problemas no
Congresso, os ministérios da Justiça, Relações Exteriores e Turismo podem, em
portaria conjunta, suspender unilateralmente os vistos de estrangeiros por 90
dias durante a Olimpíada. A intenção é atrair turistas dos Estados Unidos,
Canadá, Japão e Austrália, países que já sediaram Jogos Olímpicos, dão muita
atenção aos esportes e são mais apetitosos do ponto de vista econômico.
Os EUA são o alvo número um, porque eles só
perdem para a Argentina em número de turistas que visitam o país e os
americanos são os que mais tempo ficam (média de 20 dias) e os que mais gastam
(R$ 1.600 por viagem). Na expectativa da embaixada dos EUA, a suspensão temporária
dos vistos deve atrair 20% a mais de cidadãos do país do que na Copa.
Para quem, como eu, teme que o Brasil entre
na mira de terroristas do Estado Islâmico por causa da Olimpíada, o ministro
responde que a flexibilização dos vistos não muda nada e argumenta: os ataques
em Paris foram feitos por franceses e belgas e o Brasil já não exige visto nem
para uns nem para outros. Ou seja, a suspensão de vistos não faria a menor
diferença se eles quisessem vir.
“Se a suspensão dos vistos aumenta o risco
de terrorismo, deveríamos passar a exigir visto para a França e a Bélgica?”,
ironizou o ministro, frisando que o mais importante é a triagem e o trabalho da
Defesa, da Polícia Federal, da Receita e da Interpol. Foi isso que, na Copa do
Mundo, impediu a entrada de gente suspeita, com ou sem visto.
Na Copa, foram cerca de mil atletas, de 32
países, e mais de um milhão de visitantes estrangeiros, que deixaram no país
US$ 1,58 bilhão. Na Olimpíada, a expectativa é de 15 mil atletas, de 205
nações, além de 25 mil profissionais de mídia e um milhão e meio de turistas
internacionais (sem a exigência de visto).
Se o Brasil fosse a Inglaterra, dividiria o
investimento da Olimpíada em dois: 60% no evento em si - arenas, campos,
segurança... - e 40% no legado - inclusive na fidelização e na capacidade de
multiplicação dos turistas que vierem. Se cada um gostar muito, vai voltar e
estimular familiares, amigos, conhecidos. Mas, enfim, o Brasil não é a
Inglaterra. Lá, os turistas aumentaram de 28 milhões para 36 milhões depois dos
jogos. Aqui, os visitantes mal passam de 6 milhões ao ano.
Esse número rotineiro de visitantes e o
milhão e meio que pode vir para a Olimpíada não são considerados suficientes
para incluir o Brasil no radar do Estado Islâmico ou maluquices do gênero. O
que pode mexer com a mente doentia de terroristas são os 4,8 bilhões de
espectadores que estarão grudados nas TVs ou na internet ao redor do mundo por
causa dos jogos.
Se o Estado Islâmico é capaz de degolar e
incendiar pessoas só para chamar a atenção, imagine-se o que pode fazer para
conquistar essa audiência planetária? O risco existe, mas, cá entre nós, o
Ministério do Turismo tem razão: não é a exigência ou não de visto que vai
mudar alguma coisa.
Dúvida atroz. Do presidente de Angola, José
Eduardo dos Santos, ao ser convidado por Michel Temer para a Olimpíada: “E não
é perigoso?” Detalhe: o diálogo foi antes dos ataques em Paris.
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