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domingo

A lacuna da educação brasileira



Há bastante tempo, venho apontando que o país deixou em segundo plano o Ensino Fundamental e Médio, aí incluído o profissionalizante. E essa preterição tem gerado resultados muito negativos para a realidade dos indivíduos e da própria nação.
Os resultados do Enem, que virão a público em breve, confirmarão essa constatação. Muitos estudantes chegam ao final do antigo segundo grau sem conseguir sequer formular uma frase compreensivelmente. Ou sem fazer as operações básicas de matemática. Não é regra, mas está longe de ser uma exceção.
E não fiquemos apenas no conteúdo formal. A questão comportamental está em gradativa involução. A relação entre aluno e professor migrou de uma dinâmica próxima ao autoritarismo para o completo desrespeito. Não construímos o equilíbrio. O docente não consegue mais ser ouvido. São cotidianos os casos de deboche, desprezo, ignorância. Quando não de agressão.
É verdade que a pedagogia da severidade, pautada por medos e castigos, não se sustentava mais. Porém, também não chegará a bom lugar este modelo em que o professor perdeu a autoridade - e até mesmo a dignidade - dentro da sala de aula. Isso é assunto da escola, mas também das famílias e de toda a sociedade.
Voltemos à visão global da educação. É fato que o Brasil fez uma opção pelo ensino superior. Isso tem praticamente duas décadas. A escolha gerou resultados positivos em diversos sentidos, especialmente de inclusão social. Muitas pessoas de baixa renda chegaram à faculdade. Algumas jamais haviam sonhado com isso. Mas as outras áreas curriculares não poderiam ter ficado tão abandonadas.
Hoje uma das maiores filas de desempregados é justamente de pessoas com formação superior. Algumas faculdades simplesmente jogaram profissionais no mercado, numa postura mais comercial e menos acadêmica. O mercado, por sua vez, sentiu a lacuna de técnicos, que o ambiente de ensino público não cuidou de formar. O governo não conseguiu administrar essa pulverização.
O Ensino Fundamental foi praticamente abandonado em termos de estratégia e acompanhamento. Uma lástima. O Ensino Médio, por sua vez, virou uma espécie de mero degrau, sem foco ou identidade. Ficou confuso, apenas uma porta de acesso, quando, em muitos casos, poderia ser um fim em si mesmo. Ou seja: formar para uma finalidade predefinida. E as escolas de ensino técnico, mesmo que tenham se expandido, não alcançaram capilaridade.
Então, temos problemas no topo da carreira educacional, quando a formação é desfocada da realidade e das necessidades da vida econômica, e na base, quando produz alunos incapazes de evoluir intelectualmente. Em um ambiente de pleno emprego, essa lacuna fica quase imperceptível. Agora, diante de uma grave crise financeira, isso vem à tona de maneira tão clara quanto perversa. É algo realmente preocupante.
O Brasil precisa repensar-se. Por inteiro. E como fizeram nações em momentos preparatórios a grandes ciclos de desenvolvimento, deve começar pela educação. Não podemos ficar conformados com o que vemos do Enem, tampouco com o que produzimos nas últimas décadas. Temos potencial para ir muito mais longe. Não sem reformas estruturais profundas. Mas não sem um novo patamar de qualidade em nossa educação.


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