Há bastante tempo, venho apontando que o país deixou em
segundo plano o Ensino Fundamental e Médio, aí incluído o profissionalizante. E
essa preterição tem gerado resultados muito negativos para a realidade dos
indivíduos e da própria nação.
Os resultados do Enem, que virão a público em breve,
confirmarão essa constatação. Muitos estudantes chegam ao final do antigo
segundo grau sem conseguir sequer formular uma frase compreensivelmente. Ou sem
fazer as operações básicas de matemática. Não é regra, mas está longe de ser
uma exceção.
E não fiquemos apenas no conteúdo formal. A questão
comportamental está em gradativa involução. A relação entre aluno e professor
migrou de uma dinâmica próxima ao autoritarismo para o completo desrespeito.
Não construímos o equilíbrio. O docente não consegue mais ser ouvido. São
cotidianos os casos de deboche, desprezo, ignorância. Quando não de agressão.
É verdade que a pedagogia da severidade, pautada por medos
e castigos, não se sustentava mais. Porém, também não chegará a bom lugar este
modelo em que o professor perdeu a autoridade - e até mesmo a dignidade -
dentro da sala de aula. Isso é assunto da escola, mas também das famílias e de
toda a sociedade.
Voltemos à visão global da educação. É fato que o Brasil
fez uma opção pelo ensino superior. Isso tem praticamente duas décadas. A
escolha gerou resultados positivos em diversos sentidos, especialmente de
inclusão social. Muitas pessoas de baixa renda chegaram à faculdade. Algumas
jamais haviam sonhado com isso. Mas as outras áreas curriculares não poderiam
ter ficado tão abandonadas.
Hoje uma das maiores filas de desempregados é justamente
de pessoas com formação superior. Algumas faculdades simplesmente jogaram
profissionais no mercado, numa postura mais comercial e menos acadêmica. O
mercado, por sua vez, sentiu a lacuna de técnicos, que o ambiente de ensino
público não cuidou de formar. O governo não conseguiu administrar essa
pulverização.
O Ensino Fundamental foi praticamente abandonado em termos
de estratégia e acompanhamento. Uma lástima. O Ensino Médio, por sua vez, virou
uma espécie de mero degrau, sem foco ou identidade. Ficou confuso, apenas uma
porta de acesso, quando, em muitos casos, poderia ser um fim em si mesmo. Ou
seja: formar para uma finalidade predefinida. E as escolas de ensino técnico,
mesmo que tenham se expandido, não alcançaram capilaridade.
Então, temos problemas no topo da carreira educacional,
quando a formação é desfocada da realidade e das necessidades da vida econômica,
e na base, quando produz alunos incapazes de evoluir intelectualmente. Em um
ambiente de pleno emprego, essa lacuna fica quase imperceptível. Agora, diante
de uma grave crise financeira, isso vem à tona de maneira tão clara quanto
perversa. É algo realmente preocupante.
O Brasil precisa repensar-se. Por inteiro. E como fizeram
nações em momentos preparatórios a grandes ciclos de desenvolvimento, deve
começar pela educação. Não podemos ficar conformados com o que vemos do Enem,
tampouco com o que produzimos nas últimas décadas. Temos potencial para ir
muito mais longe. Não sem reformas estruturais profundas. Mas não sem um novo
patamar de qualidade em nossa educação.
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