A Argentina pode ser declarada como um país deserto cuja capital
é superpovoada e em seu entorno há um nada. Pouco se sabe daquele país além das
fronteiras da província de Buenos Aires. Os próprios meios de comunicação se
restringem a Buenos Aires. Além das cidades da província que está em volta da
capital, posso citar Córdoba, Rosário, Mendoza e Santa Fé como cidades
prósperas. Infelizmente, o sobejo do país é marginalizado num desmedido oco,
apinhado de pradarias, desertos e montanhas.
Neste país cavo, o que se vê são espaços urbanos esparsos. Entre
Rosário e Mendoza não há uma única urbe "grande". Nem mesmo Mendoza
pode ser qualificada como uma metrópole, ainda que seja um local estratégico,
onde se destaca a vitivinicultura e as belezas naturais, das quais ressalto a
imponência da Cordilheira dos Andes.
Mesmo assim, seja em Mendoza, seja em Córdoba ou Buenos Aires,
desde 2010, era comum as pichações com a expressão que usei de título para este
artigo diante do regime imposto pela presidente Cristina, a qual agravou ainda
mais a crise de um país que entre dezembro de 2001 e janeiro de 2002 chegou a
ter cinco presidentes em apenas dez dias.
O carisma de Cristina, nitidamente populista, assumindo o papel
de la madre de los pobres, já ficou claro com a eleição de seu marido, Nestor,
para presidente em 2003. Para os periodistas do Clarín, foi Cristina quem
elegeu Nestor e o cetro sempre esteve em suas mãos. O periódico usou o termo
"cetro" pois além da faixa presidencial (nas cores azul celeste), o
presidente recebe um cetro, o que simbolicamente resume a ascensão ao poder.
Cristina fez um mau uso deste domínio. O que era deserto ficou ainda mais
tórrido e ermo. Durante os seus dois mandatos juntou a Argentina da Venezuela e
de Cuba, e fixou uma cadeia de reservas à economia local. Felizmente o
peronismo foi derrotado nas urnas, pois a consciência tática (seja no futebol,
seja na política) que falta aos brasileiros sobra aos argentinos.
A vitória de Marcelo Macri indica que o eleitorado argentino
está ciente de que a necessidade de uma política liberal é a única chave para a
prosperidade. Cortes de gastos, eliminação de programas sociais inúteis (como
os implementados pelo PT no Brasil) e a entrega à iniciativa privada daquilo
que não é essencial à soberania do Estado devem ser a inclinação dessa nova
Argentina. Entre o retrocesso proposto por Scioli (peronista) e a política
liberal proposta por Macri, fiquei bastante feliz em ver que esta saiu-se
vencedora, pois tenho um carinho tão grande pelos argentinos assim como
considero Montevidéu a minha segunda casa.
Desde antes da divulgação dos resultados preliminares o canal
C5N já cravava a vitória de Macri. O presidente eleito, que já dirigiu o Boca
Juniors, nunca chegou perto do peronismo e sempre criticou as medidas impostas
por Cristina. Um indicativo de que o espaço de políticos de carreira, como Lula
e Dilma, deve ser extinto. Um presidente deve agir como um gestor, sendo o país
a sua grande empresa. Riscos, avarias e prejuízos fazem parte de qualquer
empreendimento, mas o fruto deste investimento realizado pelos argentinos irá
render a mudança da face do continente.
A economia de mercado deve vigorar por cima do protecionismo, as
fronteiras devem ser abertas às alianças do pacífico, dos países andinos e a
Alca poderia enfim sair do papel. Claro que para isso o PT deve ser expurgado
do Planalto, Evo Morales ser deposto em La Paz e a Venezuela ser esquecida
(salvo se Capriles conseguir salvá-la do Chavismo, que lá vige desde 1999),
além da Frente Amplia ser derrotada nas próximas eleições uruguaias, país que
sofre com um custo de vida absurdamente alto.
O que assoalhei nestas alíneas pode ser contextualizado ao
Brasil. Existimos numa conjuntura acovardada, na qual o governo tripudia à
fidúcia. O varejo está em crise.
O Natal será um fracasso. Seduzo o ledor a
peregrinar pelos núcleos mercadejais de Pelotas. Ao fazê-lo me outorgarão
razão. Afianço que atentarão aos lojistas vexados à expectativa dos clientes
que não vão abrolhar. Os efeitos da nossa economia são pífios e a retração do
poder aquisitivo do brasileiro extinguiu a grande vedete eleitoral do PT: a
classe média.
Esta que reelegeu o PT por três mandatos consecutivos está à
bancarrota. É lamentoso, mas eis os fatos. Por felicidade ainda há tempo de
mudar. Apresentemos vigor, porquanto encerro o credo de que o brasileiro não
vai querer perder este duelo para a Argentina.
Encaremos este desafio com a
distinção que nos faltou em 2014. Escolham: eles (governo petista) ou nós.
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