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terça-feira

Penso; logo inexisto


Do mendigo ao bilionário, do criminoso ao papa, do artista famoso ao cidadão anônimo... Do imbecil cooptado pelo Estado Islâmico ao francês boquiaberto ante a barbárie terrorista... Das ingênuas e pacatas comunidades de Minas Gerais e do Espírito Santo, cujos sonhos foram destruídos pelo mar de lama tóxica produzido pela ambição desmedida, ao brasileiro indignado com a falência generalizada do Brasil enquanto nação, somos tão-somente peças de reposição desta imensa e inimaginável engrenagem denominada sociedade.

 A despeito de termos a vã ilusão de liberdade, seres dotados de livre-arbítrio, não passamos de triviais instrumentos a seu serviço. Em nome dela - da sociedade - a raça humana é irreversivelmente sugada, a ponto de formar zumbis, fantasmas vagueando pela vida breve.

Os humanos são apenas números, destituídos de rostos, substituídos sempre que necessário. Os problemas, as demandas, os interesses daqueles que fazem a máquina funcionar? Não têm importância alguma! Nascem com a missão de dar parcela de contribuição ao pleno funcionamento da coletividade e não recebem compensação devida para interpretar o papel lhes destinado nesse circo dos horrores.

 A não ser que se sintam satisfeitos com o script de uma vidinha comum e rotineira: nascer, crescer, estudar, trabalhar, consumir, casar, procriar, morrer.

Permeando este breve ciclo, nos debatemos com a dor, o sofrimento, a infelicidade e a morte iminente. Mas quem ganha com o progresso e os bens obtidos pela civilização? Apenas uma minoria. E os avanços tecnológicos? E as demais conquistas efetuadas pelo homem, no sentido de tornar a vida feliz, prazerosa e longa? Privilegiam poucos e, mesmo assim, são efêmeras, pois efêmera é a existência.

Somos transitórios, meros passageiros empenhados em viagem curta e rápida. As gerações vindouras, acaso não serão beneficiadas com o atual trabalho e perseverança rumo a um mundo perfeito? Não, exceto poucos.

Basta considerar a população total do planeta. E o custo disso é impagável, se contabilizados os prejuízos causados à natureza. Para tanto, devastamos florestas, poluímos rios e mares, dizimamos fauna e flora, interferimos no curso normal das coisas, os ricos exploram os pobres, países sobretudo.

Por que essa sandice? Por que correm atrás da riqueza e do poder? Desconhecem que, embora ricos e poderosos, mesmo assim não passam de meras peças - facilmente substituíveis - da estrutura encarregada de fazer a roda do mundo girar. É preciso recomeçar - do zero.


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