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terça-feira

Vampiros de discursos


Há muito tempo que membros da elite brasileira se apossaram de discursos da classe trabalhadora.

Há muito tempo que integrantes da elite brasileira aprenderam como se apossar de discursos elaborados por membros das classes trabalhadoras. 

Não bastasse a exploração a que submetem os trabalhadores, vários agentes do status quo têm praticado a vampiragem de discursos dos oponentes às imposições neoliberais, cruéis na essência.

O exemplo mais recente desse tipo de prática pode ser lido no artigo “A luta continua” (In: “Tendências/Debates”; Folha de São Paulo: 11/09/2015).

Mesmo com as dicas já lançadas, desafio os leitores – que obviamente não puderam ler na fonte o artigo citado – a adivinharem o autor da pérola em pauta.

Acertou quem apostou em Paulo Skaf. "Ao optar por esse segmento tão invisível quanto insensível, o governo reafirma seu ódio à classe trabalhadora. A dicotomia nunca esteve tão evidente. "

Quem é Skaf?

Claro que não é um novo líder sindical. Trata-se do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). Skaf – erigido da mesma linhagem de Mário Amato et alii – é um dos mais importantes símbolos/representantes humanos do capitalismo nacional. Poder-se-ia dizer tratar-se de uma das principais encarnações do capital no Brasil.

Sendo assim, quando Skaf diz que “A luta continua” – que, na origem, é a segunda parte do jargão “O povo na rua...” –, ele está demarcando a continuidade dos planos e/ou projetos da elite perante o governo federal, e não da luta, como faz crer no enunciado.

Quem precisa da luta é quem labuta; ou seja, é o trabalhador, e não o empresário/presidente da Fiesp, que inclusive ajuda a dar o tom ideológico às outras federações país afora.

Isso é tão verdadeiro que, logo após o anúncio do pacote de horrores (recheado de cortes orçamentários e novos impostos) feito pelo governo Dilma/PT, no último dia 14, Skaf disse em bom tom, no Jornal Nacional, que agora agirá dentro do Congresso.


Agirá mesmo; e entrará como convidado de honra daqueles seres que dependem do empresariado para suas eleições, reeleições, novas eleições, perpétuas eleições...

Em contrapartida, se um trabalhador vinculado à verdadeira luta sindical – não estou falando dos pelegos do PT e congêneres – tentar entrar no Congresso, munido de suas armas típicas (bandeiras e faixas), o mínimo que lhe espera é o gás de pimenta nos olhos. 

Eis a diferença entre os que verdadeiramente podem dizer e os que não podem dizer “a luta continua”.

Agora que retomo o jargão ao campo correto das lutas sociais, afirmo que, em diversos serviços públicos do país, a luta/greve – que já ultrapassou o centésimo dia – continua; e continua porque o governo fez uma opção política para tentar governar a nau à deriva. Optou por se curvar perante a variação de humor dos investidores no mercado.

Ao optar por esse segmento tão invisível quanto insensível, o governo reafirma seu ódio à classe trabalhadora. A dicotomia nunca esteve tão evidente. 

O governo materializa seu ódio quando aponta que os trabalhadores terão de pagar mais impostos do que os que já pagam; quando anuncia cortes nos serviços e nas políticas sociais, precarizando ainda mais os serviços das repartições, como o INSS, e das instituições públicas, como as universidades e os institutos federais de ensino.

Logo, seu ódio maior, que em geral conta com apoio da grande mídia, está voltado exatamente aos trabalhadores que fazem funcionar a máquina do Estado.

O anúncio do pacote referido é a materialização mais recente desse ódio de classe. Por conta dessa declaração, os servidores públicos federais continuam em greve...

Roberto Boaventura da Silva Sá.


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