A
educação deve promover a autonomia e a autoconfiança, desde o berço com os pais
e depois na escola com a professora. O olhar dos adultos constitui uma criança
como humanamente adequada. Consegue-se desmerecer uma criança ou uma turma toda
usando artifícios pretensamente destinados a promover disciplina.
Há
rótulos facilmente assimilados, por que vêm de adultos significativos. As
crianças sabem como são vistas, na medida em que seu nome é citado
incansavelmente, ou com palavras ou com sinais claramente expostos em sala de
aula.
Marcar uma criança no quadro negro com o
intuito de compará-la ao resto da turma é um desserviço, mesmo que seja de
forma elogiosa. Se for para desmerecê-la é violência. É aí que nasce o bullying,
que começa com o olhar adulto e percebido pelas outras crianças.
Há normas
desrespeitadas flagrantemente por alguns professores, usando regras rígidas. Se
quisermos crianças autônomas, não devemos fazer por elas o que podem fazer
sozinhas.
Nos refeitórios não se permite mais servir as
crianças, mas encoraja-se a turma a servir-se do quanto e do que acha adequado.
O contrário é “dizer” que ela não é capaz de fazê-lo.
Certa
feita encontrei uma senhora muito aflita sentada no saguão de um hospital.
Perguntei-lhe o que estava acontecendo e ela falou que devia a um médico uma
quantia alta. Ela já havia pedido empréstimos a um banco e a parentes, mas não
conseguiu a quantia necessária.
O desespero daquela mulher era de tal sorte,
que me encorajei a dizer-lhe que procurasse parcelar o pagamento. Aí ela me
contou da ameaça que havia sofrido. O médico falou que o nome do paciente e o
dela seriam afixados na entrada do hospital como devedores.
O choro
daquela mulher me fez ver como podemos ser violentos e como podemos destruir
pessoas com ameaças de expô-las em público. Fiquei um tempão conversando com
ela, explicando que não havia possibilidade de um médico fazer o que havia
prometido, por ser contra a lei.
Ela ficou mais tranquila, mas afirmou que, até
o final do dia, deixaria seu marido sozinho no hospital e iria procurar mais
dinheiro fosse como fosse.
O
comportamento do médico é fruto do que ele aprendeu e o comportamento da mulher
também. A prepotência e a ganância vêm de casa e da escola e o medo e a
submissão também. A responsabilidade dos adultos é algo imenso, quando se trata
de cuidar e de educar crianças.
Tenho um
amigo que adotou um menino já crescido. O amor e a confiança que acompanha o
processo entre os pais e esse menino é comovente. Conversamos o pai e eu,
quando ele afirmou que o primeiro olhar que ele e o filho trocaram fez dele um
pai.
Foi quando o que eu temia se confirmou. Sempre suspeitei do poder que os
adultos têm de humanizar ou de prejudicar a humanização das novas gerações.
Isso me assusta!
Há
pessoas dotadas de uma capacidade de resiliência que, a despeito de terem sido
prejudicadas, conseguem levar a vida de forma satisfatória. Mas isso não
acontece com todas.
Os consultórios estão cheios, as farmácias proliferam, as
igrejas com todas as denominações também. Acredito que estejamos gravemente
doentes.
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