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sexta-feira

Por que estamos doentes?



A educação deve promover a autonomia e a autoconfiança, desde o berço com os pais e depois na escola com a professora. O olhar dos adultos constitui uma criança como humanamente adequada. Consegue-se desmerecer uma criança ou uma turma toda usando artifícios pretensamente destinados a promover disciplina.

Há rótulos facilmente assimilados, por que vêm de adultos significativos. As crianças sabem como são vistas, na medida em que seu nome é citado incansavelmente, ou com palavras ou com sinais claramente expostos em sala de aula.

 Marcar uma criança no quadro negro com o intuito de compará-la ao resto da turma é um desserviço, mesmo que seja de forma elogiosa. Se for para desmerecê-la é violência. É aí que nasce o bullying, que começa com o olhar adulto e percebido pelas outras crianças.

Há normas desrespeitadas flagrantemente por alguns professores, usando regras rígidas. Se quisermos crianças autônomas, não devemos fazer por elas o que podem fazer sozinhas.

 Nos refeitórios não se permite mais servir as crianças, mas encoraja-se a turma a servir-se do quanto e do que acha adequado. O contrário é “dizer” que ela não é capaz de fazê-lo.

Certa feita encontrei uma senhora muito aflita sentada no saguão de um hospital. Perguntei-lhe o que estava acontecendo e ela falou que devia a um médico uma quantia alta. Ela já havia pedido empréstimos a um banco e a parentes, mas não conseguiu a quantia necessária.

 O desespero daquela mulher era de tal sorte, que me encorajei a dizer-lhe que procurasse parcelar o pagamento. Aí ela me contou da ameaça que havia sofrido. O médico falou que o nome do paciente e o dela seriam afixados na entrada do hospital como devedores.

O choro daquela mulher me fez ver como podemos ser violentos e como podemos destruir pessoas com ameaças de expô-las em público. Fiquei um tempão conversando com ela, explicando que não havia possibilidade de um médico fazer o que havia prometido, por ser contra a lei.

 Ela ficou mais tranquila, mas afirmou que, até o final do dia, deixaria seu marido sozinho no hospital e iria procurar mais dinheiro fosse como fosse.

O comportamento do médico é fruto do que ele aprendeu e o comportamento da mulher também. A prepotência e a ganância vêm de casa e da escola e o medo e a submissão também. A responsabilidade dos adultos é algo imenso, quando se trata de cuidar e de educar crianças.

Tenho um amigo que adotou um menino já crescido. O amor e a confiança que acompanha o processo entre os pais e esse menino é comovente. Conversamos o pai e eu, quando ele afirmou que o primeiro olhar que ele e o filho trocaram fez dele um pai. 

Foi quando o que eu temia se confirmou. Sempre suspeitei do poder que os adultos têm de humanizar ou de prejudicar a humanização das novas gerações. Isso me assusta!

Há pessoas dotadas de uma capacidade de resiliência que, a despeito de terem sido prejudicadas, conseguem levar a vida de forma satisfatória. Mas isso não acontece com todas.

 Os consultórios estão cheios, as farmácias proliferam, as igrejas com todas as denominações também. Acredito que estejamos gravemente doentes.


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