Nós não
soubemos acabar. Isso hoje é claro para mim e, imagino, para você. Nós não
soubemos acabar. Acabamos muito depois do que teria sido razoável. Acabamos não
quando havia uma construção da qual nos lembrarmos e sim quando já não restava
nada mais que ruínas que evocavam sofrimento e pesar numa dosagem
desnecessariamente elevada.
Existe um
tempo para iniciar e existe um tempo para terminar. Errar no tempo para
terminar é muito pior do que errar no tempo para começar. Num caso, logo
compensamos as alegrias ainda não gozadas. No outro, é irreparável a dor que
advém do prolongamento vão do que deveria ter sido encerrado lá atrás.
Nós não soubemos acabar.
Pôr fim a
uma relação amorosa é uma arte tão desafiadora quanto tocar com graça uma
flauta. A covardia nos detém muitas vezes. Outras vezes, o desfecho é adiado
por uma última, ou penúltima, ou antepenúltima, lufada de esperança. E há
ocasiões em que nossa ação é impedida apenas por uma inércia para a qual não
encontramos e nem buscamos explicação. Sei lá. Talvez nas escolas devesse haver
uma disciplina que nos ensinasse a terminar uma história de amor. Nos ensinam
álgebra e geografias remotas nas escolas, mas não nos ensinam coisas básicas da
vida, como identificar o final de um caso e agir.
Nós não soubemos acabar.
O fim em
geral é claro, apenas a gente finge que não vê. Onde havia antes compreensão e
tolerância, ergue-se a impaciência. Onde havia antes generosidade, ergue-se um
rigor por vezes cruel. Onde havia antes ternura, ergue-se uma crescente grosseria.
Onde havia antes disposição para dividir, ergue-se o egoísmo. O que foi amor
virou desamor. Os fatos gritam. Mas as pessoas fingem não ouvi-los. Fingem
muitas vezes demasiadamente além do aceitável. E então sofrem bem mais do que o
necessário.
Nós não soubemos acabar.
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