O vice decorativo Michel Temer fez que ia, mas não foi.
Ele avançou muito na direção oposta à da presidente Dilma Rousseff, estimulou a
banda oposicionista do PMDB, divulgou a carta malcriada que enviou a Dilma e
por um bom tempo deu sinais de apoio ao impeachment. Isso passou. Temer agora
passa a sensação de estar recuando. O tom em relação a Dilma mudou.
Há muitas possibilidades e infinitas versões
para as idas e agora vindas de Temer rumo a Dilma e contra o impeachment, mas
um traço da personalidade do vice permeia as discussões sobre motivações: o
pragmatismo. O recuo não é por amor, mas por necessidade.
Quando o impeachment parecia uma opção real,
o professor de Direito Michel Temer dizia que precisava estar pronto para
cumprir suas “obrigações constitucionais”. Agora que parece irreal, o político
Temer acha mais prudente tapar os buracos na relação com Dilma e pavimentar a
estrada que leva o governo de ambos até 2018. Já que Dilma não deve cair,
melhor ficar bem com ela. Ou menos mal.
Além disso, há a questão central: o PMDB. A
prudência ensina que “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Antes de
almejar subir de patamar, da Vice para a Presidência, Temer precisa mostrar que
ainda manda no partido que preside desde 2001. Senão, é melhor ter juízo e
“obedecer” à hierarquia, torcendo para surgirem “fatos novos”.
Diante da crise ética, política e econômica
que se abateu sobre o país em 2015, primeiro ano do segundo mandato de Dilma,
Temer passou a ser cortejado pelos antipetistas do PMDB, velhos aliados do
PSDB, empresários desesperados com a recessão e líderes sindicais acossados
pelos índices de desemprego, todos querendo “uma solução para a crise”. Vaidoso
e docemente constrangido, rendeu-se ao assédio.
Só que o tempo passou, o Planalto confirmou
o poder da caneta, o PT está ferido, mas não morto, e o pior é que o PMDB
continua apostando que “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”. Boa
parte dos peemedebistas achou melhor voar baixo com a presidente do que não
sair do chão com o vice e seus aliados.
Quando olhou em volta, Temer descobriu que
podia virar uma ilha cercada de adversários. No Planalto, montou-se um quartel-general
para disputar o PMDB com ele. No Senado, o presidente Renan Calheiros e sua
tropa aliaram-se ao Planalto contra Temer e Eduardo Cunha na Câmara. No Rio de
Janeiro - único estado governado pelo PMDB no “triângulo das Bermudas” -, o
governador Pezão alinhou-se com o prefeito Eduardo Paes a favor de Dilma,
contra Temer.
Só esse cerco pode explicar o que parecia
inexplicável: um novato inexpressivo como Leonardo Picciani derrotando as
raposas Temer, Cunha, Eliseu Padilha e Moreira Franco e mantendo-se líder na
Câmara contra eles. Picciani não é Picciani, ele é instrumento de Dilma, Jaques
Wagner, cúpula do PT, Renan, Pezão, Paes, Eunício Oliveira...
Como a derrota na Câmara parece certa, Temer
pretende sair de Brasília e viajar pelo país para se encontrar - ou se
reencontrar - com os governadores que controlam as bancadas e os votos da
convenção de março em que disputará mais uma reeleição à presidência do PMDB.
Perde os anéis (a liderança na Câmara) e tenta salvar os dedos (o comando do
partido).
A Lava Jato expõe as entranhas do governo
Lula, a crise econômica escancara a incompetência do governo Dilma, as delações
premiadas pegam de jeito o governista Renan e tudo isso pode gerar
reviravoltas. Até lá, Temer continua distante de Dilma, mas quem espera
críticas ácidas dele contra ela pode tirar o cavalinho da chuva. Se o
impeachment subiu no telhado, o vice pulou de volta para o lado governista.
Pelo menos até março.
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