Pensando na construção do futuro
Imagine a seguinte situação: dois
distintos jovens estudantes de Ensino Médio de escola pública percebem que seus
sonhos e objetivos para uma vida feliz e plena, não passam pela faculdade ou
pelo curso superior. Um, sonha com uma vida empreendedora, abrir e cuidar do
próprio negócio, ser um microempresário, aprender a poupar, investir, gerenciar
e fazer vingar uma ideia rentável. Contudo, o aprendizado escolar é voltado
mais para uma vida universitária futura que para a vida de uma empreendedor, e
isso o desmotiva por completo com a escola. E, justamente por não receber da
comunidade escolar a orientação e conhecimento necessários para refletir se
investe, ou não, no seu projeto pessoal e como deve fazer isto, este jovem
começa a ver na escola, mais um empecilho que uma facilitadora de sua provável
nova carreira. Por fim, ele pensa em desistir da vida escolar para ‘tentar a
sorte’ no mercado informal.
De maneira igual, o outro jovem,
sensível para a arte e para a tecnologia, começa a enxergar seu destino não
como advogado ou médico, mas como DJ, cantor, compositor, desenvolvedor de
games ou artista plástico. A vida artística e criacional parecem ter mais
impacto em sua alma que a vida acadêmica e, por fim, considerando a escola como
um “mal desnecessário”, ele abandona os estudos para trilhar seu próprio
caminho, às vezes sem conhecimento, expertise ou orientação adequada.
Estes exemplos, ainda que
hipotéticos, podem servir de alerta para uma verdade inescapável para muitos,
neste início de matrículas em cursos superiores: a universidade, ou melhor, o
curso superior não é, nem pode oferecer, garantias de felicidade e sucesso na
vida. Observe aqueles que, já formados num curso superior, se descobrem
infelizes na sua carreira escolhida e percebem (às vezes com certo delay), que
poderiam ter tido mais sucesso em outra área – muitas vezes anos-luz de
distância do diploma. No curso da vida, o indivíduo pode descobrir que teria
tido mais sucesso, ou antes, que sua vocação estaria mais bem engajada em outra
formação. E, pior, uma formação cujo início, muitas vezes, não é facilitado nem
pela sociedade, nem pela família, muito menos, pela escola. Se analisarmos bem,
a busca por se tornar artista ou um empreendedor já são atividades bastante
arriscadas (no sentido de não haver garantias nem muito incentivo), ainda mais
quando a comunidade escolar não foi orientada a dar apoio – seja mostrando o
leque de ocupações humanas além da faculdade, seja as orientações para quem
está em dúvida se faz Direito ou compra uma aquarela. Em tais casos, o desafio
da autodescoberta torna-se ainda mais árduo e, muitas vezes o jovem se vê
incomodado por não saber a quem recorrer nem quais são suas inteiras opções e
perspectivas.
Destarte, ao procurar iniciar uma
reflexão sobre o movimento de milhares de jovens em busca das faculdades que
iniciam agora seu período letivo, possamos também refletir sobre o porquê de
haver tantos jovens apostando suas fichas em cursos sem muita aderência com sua
própria pisque e talento. E, das reflexões, uma me parece promissora. Buscar
instituir na Educação Básica, minicursos de Economia Criativa e a Escrita
Criativa, certamente é de grande relevância não só do ponto de vista do
indivíduo, mas também coletivo, visto que estas são atividades eminentes para a
formação, o desenvolvimento social, cultural, sustentabilidade, inclusão social
e inovação tecnológica do Estado.
Inspirado na expertise reconhecida
dos projetos como os da Junior Achievement (que ministra oficinas, de poucos
encontros semanais de 45 a 60 minutos cada), um professor habilitado poderia
ministrar assuntos como: Introdução ao Mundo dos Negócios, O papel do Governo
na Economia, Funcionamento do Dinheiro, Planejamento financeiro, Cooperativas,
Mercado de livre iniciativa, entre outras coisas. Já para as aulas de Escrita
Criativa, a base é a visão de Economia Criativa proposta pela Unesco, assim
como aquela adotada Ministério da Cultura. Na disciplina deveria ser
ministrado, em ambiente escolar, o desenvolvimento criativo relativos às áreas
de Artes visuais, Audiovisual, Comunicação, Design, Games, aplicativos e
startups, Editoração, Artesanato, Moda, Música, entre outros.
Baseado nisso, se houvesse uma lei
estadual a favor da proposta, seria estabelecido como direito amplo, líquido e
certo (ou seja, direito já estabelecido e/ou consagrado por lei vigente) o que,
até hoje tem sido filantropia ou ações pontuais de poucas escolas, professores,
artistas e empresas. Neste intuito, as políticas educacionais estaduais
estariam estimulando, não a diminuição da busca pelo diploma de curso superior
pelos estudantes de escola pública, mas sim, a diminuição da evasão escolar,
tão comum no meio artístico e microempreendedor hoje em dia. Além disso, a
escola teria um papel fundamental no envolvimento e formação do jovem, à medida
que poder-a oferecer orientações para educação financeira e cultural e
sustentável do indivíduo interessado.
Por fim, tal política de orientação
(que ainda precisa ser discutida com toda sociedante e com participação intensa
da comunidade escolar e dos envolvidos), teria o fim de tornar viável a
democratização do acesso à informação, treinamento, orientação e reflexão para
jovens e adultos que sonham com outras possibilidades, pois, com a orientação
vem a reflexão e a decisão mais acertada do jovem diante da responsabilidade de
moldar seu futuro. Afinal, não se deve marginalizar o sonho de ninguém. Ainda
mais quando este não passa pela via do diploma.
Comente
este artigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário