As mudanças dos conceitos
antigos
Vivemos tempos intrigantes e eles impactam na educação ou dela resultam. O
mundo contemporâneo superestima valores como exclusividade, novidade e
originalidade, cada qual à sua maneira. Em geral, tais características têm
marcas mais externas e individuais do que internalizadas e coletivas, sendo
normalmente mais cosméticas e menos profundas. Porém, estamos na transição e
nas mudanças todos os gatos parecem pardos, mesmo quando não são.
Exclusividade muitas vezes é vista como sendo possuir ou desfrutar de algo
que os demais não podem ter. O futuro incorporará a este conceito elementos de
criatividade, especialmente reconhecidos pelo eventual impacto positivo ao bem
comum.
Aquilo que é medido hoje pela exclusão, terá como principal indicador ser,
ou não ser, compartilhável. Novidade está, por vezes, associada a fazer uso
individual em detrimento dos demais, independentemente do valor em si. Na fase
mais madura, é possível que, transcendendo o modismo simples, novidade
significará, principalmente, se distinguir por ousar, ser diverso do antes e
valorizada pelo pioneirismo ou nível de inovação.
Originalidade costuma ser confundida com aquilo que distingue, inibindo os
demais de usufruir. Tempos virão em que ser original, essencialmente,
significará propiciar bens, serviços e experiências de qualidade para muitos.
As tecnologias digitais são as grandes geradoras dessas transformações,
porém, elas, isoladamente, não têm as soluções para uma transição adequada.
Educação tem, por certo, um papel central neste processo, ainda que não
exclusivo. Pensar as novas metodologias compatíveis com os propósitos acima
representa um grande e complexo desafio contemporâneo. O que se sabe é que, em
princípio, as tecnologias digitais permitem transformar escassez em abundância.
Desenvolver metodologias de aprendizagem inovadoras para um mundo em que
conhecimento, progressivamente, se transforma em commodity barata e de fácil
acesso, significa ter respostas para um conjunto adicional de competências que
o ensino tradicional não consegue mais dar conta.
Muito além da cognição, mais associada à recepção de informação ou ao
simples aprender, o desafio passa a ser o desenvolvimento de habilidades
metacognitivas, ou seja, o incremento da consciência do educando acerca dos
mecanismos segundo os quais ele aprende, ou seja, o aprender a aprender.
Enquanto podemos considerar razoável mensurar cognição por horas ou
créditos, cristalizados em notas de testes clássicos, a aprendizagem
metacognitiva não está diretamente correlacionada ao tempo dispendido ou mesmo
à informação acumulada no período, tornando a avaliação dos níveis
metacognitivos muito mais sofisticada.
O ambiente educacional que estimula aprendizagens inovadoras implicará em
inéditos processos educacionais. Entre eles, destaco, a título de ilustração, a
aprendizagem que se inicia com um conjunto de cursos, majoritariamente
disciplinares e basicamente online, mais associados com o que estamos
acostumados em termos de transmissão de conhecimento.
Na sequência, ou em paralelo, a
complementação do processo via a participação ativa em um “campus físico”, ou
espaços similares, visando à execução de projetos, em geral interdisciplinares
e desenvolvidos em equipe. A completeza do pensamento crítico, a preparação ao
processo de aprendizagem contínua ao longo da vida e as habilidades em solução
de problemas vão se dar, principalmente, nesta segunda etapa.
Quando o novo se afastar do antigo e emergir o mais profundo, os conceitos
atuais de exclusividade, originalidade e novidade estarão profundamente
modificados.
Mais do que desfrutar individualmente de um bem ou serviço, em geral
valorizado pela exclusão dos demais, no futuro, serão especialmente
reconhecidas a capacidade de criação e a disponibilização abundante de produtos
e processos que contribuam e sejam compatíveis com o desenvolvimento econômico,
social e ambiental harmônico e sustentável.
Pode parecer ingênuo, mas não é. Se não soubermos onde queremos chegar, melhor
nem ousar trilhar os novos caminhos.
Comente este artigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário