O país ainda não esta pronto
O Brasil
é um país de vítimas e de credores. Todo mundo se acha vítima de alguma coisa e
tem certeza que o país lhe deve algo. A maioria pensa assim. Não dá pra
avançar. Porque a condição de credor do rico, do médio e do pobre lhes dá
o pretenso direito ao imobilismo. Minha crítica acima não pretende atentar
contra nenhum direito nem tampouco inocentar governos e autoridades. Longe
disso!
Só
atento-lhes para o fato de que, não raro, políticos e governantes, brasileiros
que são, são igualmente movidos pelo sentimento que descrevi no primeiro
parágrafo, só agravados pela mentira das promessas de campanha para chegar ao
poder e pela traição ao não cumpri-las. No mais, comungam dessa idiossincrasia
brasileira.
Evidentemente
que não diminuo as dores de ninguém. Seria injusto. Também as tenho. Elas são
reais e atormentam muitos. No entanto, a gênese da infecção brasileira está na
falta de comprometimento histórico e sustentável, intenso e duradouro dos
brasileiros com o Brasil. Vivemos de espasmos de cidadania.
Não
vivemos de atitudes civilizatórias frequentes.
E
mentimos pra nós com falsos orgulhos nacionalistas porque o doce da mentira é
sempre mais sedutor ou analgésico do que o amargor e a dor da verdade. Somos
pretensiosos como povo ao nos darmos o adjetivo de solidários quando somos, como
outros povos também são sem se acharem melhores que os outros, apenas
humanitários.
Quem se
junta para combater a fome, para ajudar desabrigados de tragédias naturais,
como fazemos, faça-se justiça, em profusão, não é solidário. É tão somente
autor de ato humanitário. E isso é obrigação humana, não uma qualidade.
Solidariedade
de verdade vem antes da desgraça. Vem da cortesia no trânsito, na fila, na rua,
na calçada, na preservação do direito alheio, mesmo sem saber quem é o alheio.
Vem de deixar o banco da praça limpo porque alguém vai usá-lo como você o usou
há pouco.
Solidariedade
vem da defesa e no envolvimento com a melhoria dos serviços públicos como a
saúde, mesmo que você tenha “se salvado” com um seguro privado. Vem de se
preocupar de verdade com escola pública (reclamar sem agir não é preocupação) e
com a educação real dos próprios filhos.
A
ausência de sua ação em uma ou em ambas as situações acima constituir-se-á numa
tragédia. Maior ou menor, mas numa tragédia. Ou você terá um filho muito
educado num mar de ignorantes – o que seria injusto com você – ou seu filho
será um marginal numa sociedade de bem educados – uma terrível injustiça para
com os outros. Na hipótese de a duas coisas serem malfeitas, creio que já
imagina o resultado. E o remédio para qualquer dos sintomas é o mesmo: faça
mais do que está fazendo. O trem do faça (só) a sua parte já passou.
No dia a
dia, a média dos brasileiros, com sua minoria de exceções, é preguiçosa,
individualista e pretensiosa. Além de achar que sua dor é maior que a dos
outros. Daí se vitima. E como paga impostos, espera pelos créditos.
Seria
simples e justo pensar assim num país pronto. Não estamos prontos.
A média
dos brasileiros – e média inclui ricos, pobres e médios – não se enxerga como
parte da sociedade. Mas como dona inalienável de parte dela. Por isso essa beligerância
entre os pacíficos brasileiros.
Isso
talvez explique o motivo de quase todo mundo se achar vítima ou credora do país
e esperar desconfiada que não vai receber. Não se constrói uma nação assim.
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