É preciso de reformas
na sociedade
A necessidade de acordo social para
promover transformações que induzam o desenvolvimento do Brasil é uma urgente
construção política que deve ter prioridade da agenda sindical. Recentemente
publicamos artigo sobre essa questão no jornal Le Mode Diplomatique Brasil de
outubro, disponível em www.diplomatique.org.br.
A história econômica de países que
alçaram seu desenvolvimento indica que precisaríamos dobrar o tamanho da nossa
economia para, potencialmente, atingir uma condição de riqueza e renda
suficiente para oferecer as condições materiais para o bem-estar coletivo. Para
dobrar o PIB per capita até 2030 seria necessário crescer em torno de 5,5% ao
ano. Se crescermos 1% ao ano, levaremos 60 anos para atingir o mesmo objetivo.
A recessão deste ano nos afasta desse
objetivo. Isso ocorre porque não rompemos com a visão de curto prazo focada
somente em interesses corporativos, não revertemos a regressão industrial e as
fragilidades estruturais para o desenvolvimento produtivo, em um mundo
extremamente competitivo. Fracassamos porque não enfrentamos a estrutura
rentista de brutal transferência de renda e riqueza, nem promovemos
transformações da estrutura tributária, na organização política, na
modernização da gestão do Estado entre tantas outras mudanças necessárias.
Seja como meta ou como processo pelo
qual se alcança o resultado, as questões centrais do desenvolvimento exigem
definir, em processo de permanente reelaboração, a indicação normativa de onde
se quer chegar. Como combinar os elementos no plano operativo para promover
processos que gerem os resultados almejados? Como repartir e enfrentar o custo
da transição entre a situação presente e os objetivos a alcançar, viabilizando
os recursos necessários para construir escolhas diante das oportunidades e das
restrições, em cada situação histórica e frente às possibilidades de processos
de transformação?
O tratamento destas questões, e as
necessárias escolhas, constituem-se na atividade própria da política, cujo fim
é produzir coesão social suficiente para intervir e mudar a situação presente.
Cabe à política enunciar o que a sociedade quer como bem-estar social,
qualidade de vida e equilíbrio ambiental e, ao mesmo tempo, coesioná-la para
dar suporte e promover o desejo coletivo enunciado. Nesse contexto, abre-se a
possibilidade de outro jogo social e de novas regras a reger as relações
sociais.
A Constituição de 1988 é o nosso
atual pacto político, fruto da luta social pela liberdade e democracia, que
desembocou em um espaço de complexas negociações entre forças sociais.
Coesionou-se, nos limites da nossa transição lenta e gradual, uma nova vontade
geral consubstanciada na Carta Magna. Quase 30 anos depois, a sociedade declara
a sua incompletude. O jogo social, analisado a partir das possibilidades do
desenvolvimento, exige que o contrato social expresso na nossa Constituição
seja aperfeiçoado, alterado e/ou detalhado. Essa é uma tarefa fundamental,
indicada na agenda de reformas que setores da sociedade conclamam.
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