Polidez artificial
e mensagens ambíguas: um guia para eufemismos
Palavras curtas e fortes podem esclarecer pontos importantes. Mas as
pessoas muitas vezes preferem suavizar suas falas com eufemismos: uma
combinação de abstração, metáfora, gírias e atenuação que oferece proteção
contra o ofensivo, áspero ou repentino.
Em 1945, em um dos grandes
eufemismos da história, o Imperador Hirohito do Japão informou seus súditos que
seu país estava se rendendo incondicionalmente (depois de duas bombas
atômicas, a perda de três milhões de vidas e a ameaça iminente de invasão) com
as palavras, “A situação de guerra se desenvolveu de forma não necessariamente
vantajosa para o Japão.”
Eufemismos estão em toda a parte, da diplomacia (“o ministro está
indisposto” significa que ele não vai vir) ao quarto (uma grande
horizontale na França é uma cortesã admirável).
Mas é possível tentar formular
uma taxonomia eufemística. Uma forma de categorizá-los seria pela ética.
Em Política e a Língua Inglesa, George Orwell escreveu que a
linguagem política capciosa é feita para “fazer com que mentiras soem
verdadeiras e o assassinato seja respeitável”. Alguns eufemismos de fato
distorcem e enganam; mas alguns são motivados pela gentileza.
Outra maneira de tipificá-los seria por tema. Uma terceira – e uma
forma útil para se começar – é por nacionalidade. Um eufemismo é uma forma de
mentira, e as mentiras que pessoas em países diferentes contam a si mesmas são
reveladoras.
Eufemismos norte-americanos pertencem a uma classe própria,
principalmente porque eles parecem envolver palavras que poucos considerariam
ofensivas para começar, substituídas por frases inutilmente ambíguas: tecido de
banheiro (bathroom tissue) para papel higiênico, aplicativos dentários (dental
appliances) para dentaduras, carro de propriedade prévia (previously owned) ao
invés de usado, centros de bem-estar (wellness centers) para hospitais, onde se
realizam procedimentos (procedures) e não operações.
Sensibilidade
chinesa
Alguns eufemismos chineses também decorrem do excesso de escrúpulos e
discrição. Ao invés de perguntar sobre a vida sexual de um paciente, os médicos
costumam indagar se ele tem conseguido fazerfang shi (negócios de
quarto).
Sites online de produtos sexuais vendem qinqgu yongpin,
literalmente “interessantes produtos de amor”.
Os britânicos são provavelmente os campeões mundiais do eufemismo. Os
melhores são amplamente compreendidos (pelo menos entre nativos), criando uma
agradável sensação de cumplicidade entre o “eufemista” e sua audiência.
Obituários de jornais britânicos são uma fonte rica: ninguém gosta de
falar mal dos mortos, mas muitos apreciam uma pista quanto a verdade sobre a
pessoa que “faleceu”. Um bêbado é descrito como “festivo” ou “animado”.
Tagarelas insuportáveis são“sociáveis” ou o pavoroso “exuberantes”; “sagacidade
vivaz” significa uma tendência a contar histórias cruéis ou sem graça.
“Austero” e “reservado” significa triste e deprimido.
Sala de reuniões,
quarto de dormir
Uma taxonomia temática do eufemismo deve ter uma categoria reservada
para o comércio. Uma residência “bijou” é minúscula (também pode ser
“charmosa”, “aconchegante” ou “compacta”).
Uma vizinhança “vibrante” é ensurdecedoramente barulhenta; se é
descrita como “emergente” tem taxas de criminalidade assustadoras, enquanto a
“um passo de” geralmente significa que você precisaria de uma catapulta para
chegar ao centro da cidade.
Sexo supera até excreção como fonte de eufemismos. A Bíblia está cheio
deles: “pé” no lugar de pênis, “conhecer” no lugar de relações sexuais. Uma
prostituta abordando um cliente nas ruas do Cairo vai perguntar Fi hadd
bitaghsal hudoumak? (Literalmente, “Você tem alguém para lavar suas
roupas?”)
Eufemismos politicamente corretos estão entre os mais nocivos. Bom e
mau se transformaram em “apropriado” e “inapropriado”. Um problema terrível
vira uma menos alarmante “questão desafiadora”. Gastar é investir; cortes são
economias.“Afetado por erro matemático” (na terminologia da União Europeia)
significa dinheiro roubado do orçamento.
Mas eufemismos também podem ser benignos, até mesmo necessários. Às
vezes a necessidade de não ferir sentimentos tem precedência justa sobre a
clareza. Dizer que crianças muito retraídas ou muito agitadas tem “necessidades
especiais”, ou que elas exibem “comportamento desafiador”, não as torna mais
fáceis de se ensinar – mas pode fazer com que elas não sejam alvo de
provocações ou se sintam desencorajadas.
“Frágil” (sobre uma pessoa idosa) é mais gentil do que fraco ousenil.
Eufemismos podem ser uma forma de mentira, mas alguns deles são mentiras
brancas.Uma cultura sem eufemismos seria mais honestas, porém mais dura.
Aqui vai uma resolução de Ano Novo: tire os eufemismos das suas
conversas por um dia. Os resultados vão te surpreender.
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