Desde o dia primeiro de janeiro de
2016 não mais coexistem duas normas ortográficas no Brasil. Enfim, a Nova
Ortografia, cuja assinatura se deu em 1990, a vigência internacional em 2007 e,
pelo decreto da Presidência da República, número 6583, produz seus efeitos no
Brasil a partir de primeiro de janeiro de 2009, é a única norma ortográfica a
ser respeitada em nossa língua escrita.
Importante, porém, além de todos os
aspectos linguísticos e gramaticais que já foram amplamente discutidos, é
entender em quê essa ortografia é nova, ou melhor, inova e qual a importância
de a conhecermos e usarmos.
Pra começar, vamos entender que
ortografia – grafia correta – é um conjunto de regras arbitrárias e
convencionais, em sua maioria irregulares.
Ou seja, poucos princípios se aplicam
a todas as palavras. Poucos mesmo.
Um bom exemplo das poucas
regularidades é que em língua portuguesa nenhuma palavra começa com “rr” e
sempre, antes de “p” e “b”, usamos a letra m para marcar nasalidade. Mas é
possível contar nos dedos, de uma mão, outras regularidades como as citadas. O
que quero dizer com isso? Que não há uma lógica (intrínseca e inquestionável)
no registro escrito da língua portuguesa: há tendências e influências,
sobretudo etimológicas.
Aquela desesperada procura de todo
falante da língua pela (“lógica”) correspondência entre a sonoridade e a
grafia, é uma ilusão tremenda.
Não existe correspondência absoluta
entre letra e som nem no alfabeto da língua portuguesa e, por consequência, nem
nas palavras, frases, textos!! Uma única letra pode representar vários sons –
letra “x”: xícara, tóxico, exagero -, um único som pode ser representado por
várias letras – som [s]: suave, assalto, acento, discente, criança,
expectativa.
Por quê? Porque a língua é um organismo vivo e
incontrolável, cuja evolução tentamos bravamente frear. Assim, sempre haverá mudanças,
novidades, inovações, especialmente, na língua falada. Na escrita, há regras
que contribuem para a conservação. Nessa tensão – inovação/conservação –
vivemos.
E, ao contrário do que muitos possam
pensar, o esforço de conservação do registro escrito de uma língua não a
prejudica, mas a favorece, possibilitando que, por um determinado tempo, todos
os usuários reconheçam, sem dificuldades, os signos de uma língua.
Ou seja, embora na sonoridade haja
diferenças, na escrita o registro será sempre o mesmo: porta. Por isso, para
textos, é fundamental que se dominem as regras de ortografia porque escrita é
um espaço onde variações não são admitidas. Não dá pra usar de um jeito no
primeiro parágrafo e de outro no último. Ou hoje com um “s”, amanhã com dois “s”;
já na fala, variações não causam espanto algum.
Então, mudanças ortográficas como
retirada de acentos, ainda que “novas”, não indicam liberdade, continuam sendo
regras de conservação. A norma gramatical, como a ortográfica, é instrumento de
uniformização. Perdoem-me a rima, mas, mesmo assim, houve inovação?
Sim. Até houve. Dois aspectos
inovadores devem ser destacados na nova norma ortográfica: concessões dos
anteriormente dois sistemas vigentes – português e brasileiro e admissão do
princípio fonético para o registro escrito de algumas palavras.
Ou seja, inovação porque há uma
tendência para pensar formas de uniformização, ao menos escrita, da língua
portuguesa, onde quer que seja usada, e também em relação à simplificação das
regras com a admissibilidade do princípio fonético – escrever de acordo com a
sonoridade -, ainda que incipiente, em palavras que, por exemplo, passam a
admitir dupla grafia: fêmur e fémur. Porém, nossa ortografia, embora nova, tem
pretensão de conservar, não de inovar.
Enfim, ortografia é assunto
interessante, complexo e de obrigatório aprendizado para todos os cidadãos que
utilizam a língua portuguesa. As novas regras a simplificaram? A prejudicaram?
Havia ou não necessidade de mudança? Houve avanço, retrocesso? Tais discussões,
hoje, são inúteis.
Fundamental, sem dúvida, é mudar o foco para
alcançar o que importa: aprender as regras ortográficas. E para a aprendizagem,
sim, a inovação das estratégias e métodos é absolutamente necessária. Mas esse
é um assunto para um próximo artigo.
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