A presidente Dilma Rousseff
precisa ser como os gatos, que caem de pé e têm sete vidas. Ela vai perdendo
uma vida no Tribunal de Contas da União, outra no Tribunal Superior Eleitoral,
mais uma no Supremo Tribunal Federal e, todo santo dia, ela morre um pouco no
Congresso. Haja fôlego!
Isoladamente, nada disso tem um
efeito mortal. Nem o TCU, nem o TSE, nem o STF (neste caso específico), nem a
falta de quórum para a votação de vetos presidenciais no Congresso são
suficientes, em si, para aniquilar as condições de governabilidade e derrubar
Dilma. O problema é que eles não são movimentos isolados. Estão profundamente
interlaçados.
O TCU, órgão de assessoramento
do Congresso para monitorar, investigar e julgar as contas públicas, não é de
reprovar facilmente contas de presidentes, tanto que as últimas rejeitadas
foram de Getúlio Vargas, há 78 anos. Se foi sempre assim, bem que o tribunal
poderia fechar os olhos e deixar para lá as "pedaladas" de Dilma,
Guido Mantega e Arno Augustin.
O TSE, que julga contas, mandos
e desmandos de campanha, é tradicionalmente bonzinho. Podia até mostrar as
garras para governadores e prefeitos, mas nunca foi de rugir e ameaçar
presidentes da República e seus vices. Logo, poderia deixar passar em branco os
jeitinhos da chapa Dilma-Michel Temer.
O STF é outra história, mas,
aqui entre nós, o governo tinha lá suas razões ao reclamar que o relator
Augusto Nardes vinha antecipando o voto dele havia dias, semanas, meses.
Independentemente do mérito desse voto, preparado com esmero por 14 técnicos do
TCU, a verdade é que dez entre dez leitores de jornais e revistas sabiam como
ele iria votar. E a Lei Orgânica da Magistratura está em vigor, pois não?
O Congresso: Dilma deu tudo
para saciar a sede e a fome da base aliada, especialmente do PMDB. Pela praxe,
deveria ganhar pelo menos as primeiras votações. Mas não. Perde uma atrás da
outra e não consegue quórum para confirmar importantes vetos presidenciais. Nem
o PMDB, empanturrado com sete ministérios, inclusive o da Saúde, comparece em
peso.
Então, que revolução é essa nessas
instituições, na mesma hora, com a mesma intensidade e na mesma direção? As
sucessivas e contundentes derrotas de Dilma, na verdade, estão conectadas e são
desdobramentos de um pecado original: a arrogância do PT que, no poder, achou
que podia tudo, nas contas, no governo, nas estatais, nas eleições.
E esse pecado é agravado pelos vícios da
própria Dilma, que achincalhou a economia e tem reprovação recorde na opinião
pública.
O TCU tem 106 bilhões de
motivos para reprovar as contas de governo em 2014, o TSE tem bilhões de causas
na Petrobras para impugnar as contas da última campanha, o Congresso pode
alegar que apenas defende funcionários do Judiciário, aposentados e
pensionistas.
Mas, independentemente do mérito, de haver ou
não boas razões, TCU, TSE e Congresso só se rebelam assim e só dão gritos tão
estridentes contra o Planalto por causa do ambiente político. Fraca, com o
governo ao deus-dará, a economia em queda livre e a popularidade no chão, Dilma
virou alvo fácil.
Ela demorou tempo demais para
captar a gravidade da situação, engolir o orgulho, assumir os erros, dar as
guinadas que precisava dar. Agora, tudo parece tardio, inócuo, vazio. Ela
anuncia a reforma ministerial numa sexta, dá posse aos ministros na segunda e,
já na terça, em vez de melhorar, sua posição só piora até mesmo no grande
beneficiário, o PMDB.
As instituições estão cumprindo
cada vez mais o seu papel também porque o país avança e amadurece, mas
principalmente porque a pressão para mudar e por mais ética e moral não é de
dentro para fora, mas de fora para dentro.
No fundo, por trás de cada voto dos ministros
do TSE, do TCU e do Supremo havia milhões de cidadãos e cidadãs que querem
lisura, justiça e um país melhor para o futuro.
Comente este artigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário