Esta semana vi o vídeo de uma mãe, que mostrou chorando o bilhete
deixado pelo filho antes de se suicidar. Ela conta sobre a perseguição que ele
sofreu desde pequeno, por ser diferente e mais sensível do que o comum, mais
preocupado com o bem estar dos outros, atencioso e gentil. Fiquei imaginando a
dor dessa família, o que, provavelmente, nunca vai passar.
Mas imaginei também
qual o sentimento de quem, de forma indireta, matou esse menino. Quem o
perseguiu sistematicamente debochando e desqualificando, percebeu que as
gracinhas sem consequências foram o estopim para a perpetração de um ato de por
fim à vida. Fiquei com pena também dos torturadores, por que, se ainda forem
gente, hão de fazer uma avaliação do que a tortura significa.
Mas há uma
cultura de que criança tem que aprender a se defender e que, antigamente, a
crueldade infantil não significava o que significa agora. Engana-se quem pensa
assim. É só conversar com adultos e perguntar a eles se sofreram algum tipo de
perseguição.
Hoje uma pessoa cai na rede social e é violada
por muita gente e em pouco tempo. Uma foto postada pode acionar uma rede de
crueldade, a exemplo daqueles casos tão conhecidos de namorados que postam
fotos íntimas de suas namoradas.
Imaginei
também qual o perfil dos que usam as redes sociais, atentos aos deslizes dos
outros. Conclui que são pessoas de quinta categoria e que sua atuação está
prestes a ter fim, por que ninguém mais aguenta isso.
Conhecemos
alguém pela sua conduta, especialmente quando a crueldade fica tão explícita a
ponto de percebermos que não há sutilezas, não há indiretas, mas diretas
perceptíveis a olho nu. E, pior, quando outros estimulam a prática, curtindo,
comentando, rindo e dando força a quem é igual a si.
Quando
lemos uma reportagem e nos atrevemos a ler os comentários temos a nítida
sensação de que vivemos o fim do mundo civilizado. As entranhas da internet
revelam um submundo público, onde tudo é permitido, onde o anonimato ou a
distância dão o tom da covardia, da perversidade, da distorção de valores.
Ontem
assisti a um filme “Para sempre Alice” com os protagonistas Jullianne Moore e
Alec Baldwin. Trata-se da história de uma mulher muito inteligente, acadêmica
bem sucedida, que tinha a comunicação como seu forte. Dava palestras pelo mundo
e construiu uma vida familiar composta por um marido amoroso, um filho e duas
filhas. Aos poucos ela percebeu umas panes de memória, um cansaço exagerado, a
ponto de procurar um neurologista, que logo percebeu tratar-se de uma doença
degenerativa.
Essa
mulher de cinquenta anos estava com Mal de Alzheimer precoce e sua derrocada
cognitiva foi muito acelerada. Antes de sair completamente do que ela era, a
mulher deixou vídeos gravados, instruindo-se a cometer suicídio. Falou no vídeo
onde estaria o remédio que conseguiria matá-la. O final dá conta de que ela
morre de qualquer jeito, por que, apesar de continuar sendo Alice, não sobrou
nada do que ela foi.
Meu
intuito é compreender por que nosso comportamento é tão destrutivo, quando
sabemos que amanhã uma desgraça pode bater à nossa porta. Não conseguimos
controlar nada.
Vivemos dias de chuvas intensas, com
flagelados e mortes bem ali na nossa vizinhança. Sabemos de tantas doenças e
tragédias incontroláveis, que dizimam todos os dias o equivalente aos mortos em
uma guerra e mesmo assim nos detemos em detalhes da vida pessoal das pessoas
que deveríamos cuidar.
É
imperdoável sermos covardes aproveitando-nos das facilidades de vidas expostas
na rede, que veio para facilitar nossas vidas. Espero que tenhamos o bom senso
de avaliarmos nossa atuação em um lugar público, onde devemos ter um
comportamento compatível com o que aprendemos em casa, na escola, na igreja,
com os amigos.
Somos fruto do que aprendemos, por isso
devemos combater as distorções que comprometem vidas. Há suicídios em demasia,
que não precisariam acontecer, caso houvesse compaixão em maior número do que
intenções sádicas de destruição.
Acredito
que estamos no fim da era da impunidade na internet, por que, percebo o fim da
tolerância e da paciência de quem compartilha dela. A internet nada mais é do
que uma rede que se realimenta de nós, portanto, podemos reverter a tendência
bélica que transparece num simples toque de botões.
Comente
este artigo
Nenhum comentário:
Postar um comentário