Caminhos do destino
Comecei
a ser chamado de professor muito cedo, incrivelmente com 14 anos de idade. Dava
aulas particulares para um garoto da terceira série e achava estranho ser
chamado de professor e de senhor em plena adolescência.
Diante
dessas lembranças, decidi resgatar minhas memórias da infância e lembro-me de
tentar convencer os amigos a brincarem de “escolinha”. Não lembro a idade
(talvez uns oito ou nove anos), mas lembro-me de pegar um livro de Ciências bem
ilustrado e ler sobre como os elétrons eram transportados em uma corrente
elétrica e fiquei empolgado com aquilo. Então tentava explicar para as outras
crianças o fenômeno dos “elétrons que andavam nos fios e acendiam a lâmpada”.
Mas ninguém se interessava. Eles gostavam de jogar futebol, enquanto eu gostava
de estudar. Alguns diziam: – Olha só… Ele é doido! Gosta de estudar. Eu não
gosto!
Ao
anoitecer, escrevia verdadeiras redações nos cadernos de perguntas que eram
febre nos anos 80, ou senão, utilizava pedaços de gesso como giz, para escrever
contas matemáticas na calçada.
Claro
que eu também adorava andar de bicicleta e patins. E algumas raras vezes jogava
“golzinho” usando os chinelos como traves. Mas eu realmente ficava feliz quando
a professora dizia que “o trabalho seria para apresentar”.
Talvez
eu realmente não fosse normal. Até porque eu era professor de Física de uma
escola pública em Goiânia com 18 anos de idade, ainda no primeiro ano do curso
de Licenciatura em Física. Claro que sem preparação ideal fiz vários estragos
(talvez ainda faça, sou humano, eu erro), mas também acertei bastante. Deixei
marcas boas e ruins. Do mesmo modo, meus alunos e colegas deixaram marcas em
mim, boas e ruins. Ajudaram-me a desenvolver e também a “desandar”.
E hoje
vejo que não, eu não escolhi ser professor. A vida tomou essa escolha por mim.
E por mais que eu tenha tentado por várias vezes parar, ela sempre arruma um
jeito de me recolocar em meu lugar.
E nesse
dia de hoje (15/10/15), onde observo comemorações tímidas e modestas,
homenageando esses verdadeiros heróis, sinto que há um sentimento geral de
frustração com relação a esse profissional. Retrato de uma cultura geral de um
país que não valoriza seu mais importante profissional. E que joga na vítima (o
professor), a culpa pelo fracasso na Educação.
E hoje,
Dia dos Professores, poderia homenagear meus heróis que me influenciaram.
Poderia parabenizar meus colegas. Mas não! Hoje vou ser egoísta e fazer um
brinde a mim, e agradecer a vida por ter me reservado tão nobre missão. Pelo
menos hoje vou tirar tempo para pensar em mim. Vou lecionar para mim mesmo e
aprender sobre quem eu sou. Porque, podendo utilizar tantos títulos diferentes,
escolhi ser chamado professor, pois, afinal, foi o que a vida escolheu e
destinou a mim.
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