Uma luz acendeu-se no fim do túnel. Mais
adiante explico. Muitos de nós estamos mais do que preocupados e até mesmo
desesperançados, ante a periclitante trajetória do nosso planeta rumo a um
futuro próximo nada animador. Isto porque a intervenção catastrófica dos ditos
humanos nas condições da vida biológica está influenciando negativa e
decisivamente para a degradação da Terra.
Como já havíamos mencionado em artigos anteriores, não tínhamos conhecimento de que algum líder mundial, com poder de
influência e capacidade de persuasão, tivesse a inquestionável inquietação
pelas questões sócio-econômico-culturais-ambientais, todas entrelaçadas no
mesmo invólucro. O progresso tecnológico, infelizmente desacompanhado de outros
avanços comportamentais educativos e éticos, tem proporcionado melhores
condições de conforto para a humanidade, se bem que não para todos.
E chegamos
ao século 21 com muitas disparidades, desigualdades, acentuados individualismo
e egolatria de países, regiões e pessoas. Tudo isso comandado por um único
critério de orientação, ou seja, o crescimento econômico, revelador do quão
ignorantes e limitados somos.
Surge, agora, felizmente, uma figura
pública de expressão que resolveu manifestar sua contrariedade contra o nefasto
direcionamento da humanidade, na missão desafiadora de persuadir-nos a mudar.
Já não é sem tempo, o papa Francisco recentemente publica sua encíclica Laudato
Si ("Louvado Sejas") na qual aborda as principais questões para o
futuro deste planeta, principalmente no que se refere ao meio ambiente. Não é
preciso ser católico apostólico romano para nos perfilarmos aos argumentos
indefectíveis apresentados pelo sumo pontífice. Os quais, embora sábios e
convincentes, vão contra setores conservadores da sociedade mundial e inclusive
da própria Igreja Católica.
Aos poderosos, economicistas, imediatistas
e outras ignorâncias, tudo deve continuar como está, isto é, o dinheiro, o
mercado e o lucro são os parâmetros que movem o mundo. E desgraçadamente são eles
que comandam os atos e os fatos. Muitos de nós persistimos em desconhecer que
estamos neste planeta de passagem e nada levaremos a não ser as consequências
de nossas ações. Ainda bem que surge a voz do papa Francisco para nos advertir
e alertar sobre os perigos dos rumos que teimamos em trilhar. Bom seria que
todos pudessem ler atentamente ao que está escrito na encíclica.
Não há espaço para comentarmos as
premissas, entretanto peço permissão para enumerar e chamar atenção para alguns
subtítulos: O que está a acontecer à nossa casa - poluição, resíduos e cultura
do descarte; o clima como bem comum; a questão da água; perda da
biodiversidade; deterioração da qualidade de vida humana e degradação social;
desigualdade planetária; a fraqueza das reações; diversidade de opiniões; uma
comunhão universal; o destino comum dos bens.
A raiz humana da crise ecológica - a
tecnologia: criatividade e poder; a globalização do paradigma tecnocrático;
crise do antropocentrismo moderno e suas consequências; o relativismo prático;
a necessidade de defender o trabalho. Uma ecologia integral: ambiental,
econômica e social; ecologia cultural; ecologia da vida cotidiana; o princípio
do bem comum; a justiça intergerações. O diálogo sobre o meio ambiente na
política internacional: diálogo e transparência nos processos decisórios;
política e economia em diálogo para a plenitude humana. Educação e
Espiritualidade ecológicas: apontar para outro estilo de vida; educar para
aliança entre a humanidade e o ambiente; amor civil e político; a conversão
ecológica.
Como podemos perceber pelos subtítulos, há
muitas assertivas que precisamos todos pôr em prática, isto se tivermos
compromisso entre nós e com as gerações futuras. Particularmente, é preciso que
também as lideranças mundiais enfoquem a questão da expansão demográfica como
grande impeditivo para o aumento descontrolado de consumo e desigualdade,
fatores que contribuem decisivamente para os problemas que estamos vivenciando
e que atingirão, ainda com mais intensidade, as gerações vindouras. O mundo
precisa colocar a solidariedade como fator inestimável de ética e convivência.
Na contramão dessa postura, por exemplo, o que estamos assistindo em relação
aos contingentes de africanos e asiáticos que tentam migrar para a Europa e
outros lugares, só pode ser explicado pelo quase abandono por parte dos países
desenvolvidos, após séculos de exploração de suas terras.
A solução, ainda não cogitada, para
mantê-los em seus locais de origem seria aportar e dividir investimentos
capazes e suficientes de dar-lhes condições de sobrevivência digna e possível.
Da maneira como está, sabemos que dificilmente as hordas de migrantes e
refugiados deixarão de continuar. A não ser os fabricantes de armas (a
indústria de maior faturamento no mundo!) e aqueles que lucram com as guerras,
todos nós queremos a paz. Todavia, como obtermos a paz sem justiça e respeito?
A continuidade da dinâmica e dos padrões competitivos e do modelo exploratório
é insustentável, está mais do que provado. Mudança é a palavra de ordem.
"Os valores da nossa civilização devem mudar, com a sede de poder e a
ganância dando lugar ao serviço e à doação." (Ingrid Betancourt, ativista
sul-americana). Em outras palavras, entenda-se que um novo paradigma
cooperativo deve ser apropriado para garantirmos a continuidade de vida no
planeta.
Neste momento em que finalmente uma
liderança reconhecida mundialmente nos convida a refletir e promover ações
sobre o nosso modo de vida e as atitudes para com nosso planeta, saudemos a
preciosa intervenção do papa e com ele a esperança de mudanças bem
significativas de todos nós, bem como o engajamento de muitas outras lideranças
mundiais e o despertar para uma nova consciência verdadeiramente humanitária.
Só assim, a Paz entre nós será estabelecida e a Natureza seguirá seu curso
normal.
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