O crescimento dos
casos de Aids, o aumento da violência e a escalada das drogas ameaçam a
juventude.
O crescimento dos casos de Aids, o aumento
da violência e a escalada das drogas ameaçam a juventude. A deterioração
econômica e a falta de perspectiva de trabalho exacerba o clima de
desesperança. A percepção da falência do Estado em áreas essenciais (educação,
saúde, segurança, transporte) causa muita frustração. Para muitos jovens,
infelizmente, os anos da adolescência serão os mais perigosos da vida deles.
Desemprego, gravidez precoce, aborto,
doenças sexualmente transmissíveis, Aids e drogas compõem a trágica equação que
ameaça destruir o sonho juvenil e escancarar as portas para uma explosão de
violência. Além disso, a moçada não foi preparada para a adversidade. E a
delinquência é, frequentemente, a manifestação visível da depressão.
A situação é reflexo de uma cachoeira de
equívocos e de uma montanha de omissões. O novo perfil da delinquência é o
resultado acabado da crise da família, da educação permissiva e do bombardeio
de setores do mundo do entretenimento que se empenham em apagar qualquer
vestígio de valores. Tudo isso, obviamente, agravado e exacerbado pela falência
das políticas públicas e a ausência de expectativas.
Os pais da geração transgressora têm parte
da culpa. Choram os desvios que cresceram no terreno fertilizado pela omissão.
O delito não é apenas reflexo da falta da autoridade familiar. É, muitas vezes,
um grito de revolta e carência. A pobreza material agride o corpo, mas a falta
de amor castiga a alma. Os adolescentes necessitam de pais morais, e não de
pais materiais.
Reféns da cultura da autorrealização,
alguns pais não suportam ser incomodados pelas necessidades dos seus filhos. O
vazio afetivo - imaginam na insanidade do seu egoísmo - pode ser preenchido com
carros, boas mesadas e um celular para casos de emergência. Acuados pela
desenvoltura antissocial dos filhos, recorrem ao salva-vidas da psicoterapia. E
é aí que a coisa pode complicar. Como dizia Otto Lara Rezende, com ironia e
certa dose de injusta generalização, "a psicanálise é a maneira mais
rápida e objetiva de ensinar a odiar o pai, a mãe e os melhores amigos".
Na verdade, a demissão do exercício da paternidade está na raiz do problema.
Se a crescente falange de adolescentes
criminosos deixa algo claro, é o fato de que cada vez mais pais não conhecem os
próprios filhos. Não é difícil imaginar em que ambiente afetivo se desenvolvem
os integrantes das gangues juvenis. As análises dos especialistas em políticas
públicas esgrimem inúmeros argumentos politicamente corretos. Fala-se de tudo.
Menos da crise da família. Mas o nó está aí. Se não tivermos a firmeza de
desatá-lo, assistiremos, acovardados, a uma espiral de violência sem
precedentes. É uma questão de tempo. Infelizmente.
Ao traçar o perfil de alguns desvios da
sociedade norte-americana, o sociólogo Christopher Lach - autor do livro A
rebelião das elites - sublinha as dramáticas consequências que estão ocultas
sob a aparência da tolerância: "Gastamos a maior parte da nossa energia no
combate à vergonha e à culpa, pretendendo que as pessoas se sentissem bem
consigo mesmas."
O saldo é uma geração desorientada e vazia.
A despersonalização da culpa e a certeza da impunidade têm gerado uma onda de
superpredadores.
O inchaço do ego e o emagrecimento da
solidariedade estão na origem de inúmeras patologias. A forja do caráter,
compatível com o clima de verdadeira liberdade, começa a ganhar contornos de
solução válida. A pena é que tenhamos de pagar um preço tão alto para
redescobrir o óbvio.
É preciso ir às causas profundas da
delinquência. Ou encaramos tudo isso com coragem ou seremos tragados por uma
onda de violência jamais vista. O resultado final da pedagogia da concessão, da
desestruturação familiar e da crise da autoridade está apresentando
consequências dramáticas. Chegou para todos a hora de falar claro. É preciso
pôr o dedo na chaga e identificar a relação que existe entre o medo de punir e
os seus efeitos antissociais.
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