As eleições nacionais estão
deixando de ser atraentes para os idosos. Dados do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) revelam que, nos pleitos nacionais de 2008 a 2014, mais da metade do
público com mais de 70 anos deixou de votar. O índice de abstenção desse grupo
oscilou entre 53% e 64% nas seis últimas vezes em que o brasileiro foi às
urnas, bem acima da faixa entre 16% e 24% dos eleitores em geral.
Para entender a opção dos
idosos de abrir mão do voto, ou de continuar indo às urnas, a gerente de
atendimento e planejamento do Ibope Inteligência, Patrícia Conde, junto com
Tânia Almeida Gouveia, produziu o trabalho Estou aproveitando a vida, cansei de
votar. Um estudo exploratório sobre a abstenção às urnas entre os idosos
brasileiros. O material foi apresentado na conferência internacional da Wapor,
a Associação Mundial para Pesquisas de Opinião Pública, realizada em Buenos
Aires, na Argentina.
Nas eleições municipais de 2008
e 2012 houve 53% e 56% de abstenção entre os eleitores acima de 70 anos,
respectivamente. Já nas presidenciais e estaduais de 2010, 63% deles deixaram
de votar. Para as duas, conclui-se que há certa descrença desse eleitor em
relação aos gestores públicos, bem como à possibilidade de transformações
políticas efetivas, o que o leva ao distanciamento das urnas.
De acordo com o Ibope, as
autoras do estudo apuraram que os índices de abstenção são maiores em eleições
presidenciais e estaduais - alcançaram 63% tanto no primeiro como no segundo
turno de 2010, e 64% e 62%, respectivamente, no primeiro e no segundo turno do
pleito de 2014.
Ambas destacam, porém, que,
embora também alto, o percentual de abstenção dos mais velhos em eleições
municipais é comparativamente menor. Nas eleições municipais de 2008, 53% dos
com mais de 70 anos não foram às urnas, enquanto em 2012 o percentual foi de
56%. "Isso pode estar relacionado à ideia de que questões municipais são
mais tangíveis no cotidiano do cidadão, bem como à possibilidade de, durante a
campanha, os candidatos a cargos municipais se manterem mais próximos e
presentes entre os cidadãos", concluem.
A região Norte do país é a que
tem maior abstenção entre idosos. Por outro lado, no Centro-Oeste, embora
também com altos índices de abstenção, é onde isso ocorre com menor
intensidade. De acordo com Patrícia Conde e Tânia Gouveia, fatores
característicos de cada região, como grau de escolaridade, acesso às zonas
eleitorais e contexto político-administrativo local podem influenciar a decisão
do idoso de exercer ou não o direito ao voto.
Para complementar o estudo, as
autoras também realizaram uma etapa qualitativa, com entrevistas em
profundidade com idosos. Entre os entrevistados que optaram por não votar mais,
desde que atingiram uma idade em que foram desobrigados disso, há maior
distanciamento de questões ligadas à sociedade em geral, pois parecem
preocupados quase que apenas com eles mesmos e com sua família.
Há comentários também em
relação ao incômodo de sair de casa para enfrentar fila na seção eleitoral.
"Eu? Sair da minha casa para ficar em fila pra votar nesses caras que só
querem saber de ganhar dinheiro? Eu não!", disse um entrevistado de 76
anos.
As autoras concluem que o distanciamento das urnas vem de certa descrença desses eleitores nos gestores públicos e na possibilidade de transformações políticas efetivas.
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