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domingo

Tróia: história ou mito?



Em “História”, Heródoto escreve: “Até então não houvera de uma parte e de outra mais do que raptos; depois do acontecido, porém, os gregos, julgando-se ofendidos em sua honra, fizeram guerra à Ásia, antes que os asiáticos a declarassem à Europa. Ora, conquanto lícito não seja raptar mulheres, dizem os persas, é loucura vingar-se de um rapto. Manda o bom senso não fazer caso disso, pois sem o próprio consentimento delas decerto não teriam as mulheres sido raptadas”.
Pois é. A história de Helena de Troia, relatada na Ilíada de Homero, e até hoje sujeita a interpretações fantasiosas, agora mais cinematográficas que poéticas. Homero escreveu a Ilíada cerca de cinco séculos depois dos fatos então narrados. Por isso, naqueles tempos não se precisava de muito mais imaginação para aceitar Helena como filha de Zeus do que para, hoje, admitir Brad Pitt como o heroico Aquiles.
Já se tentou explicar as causas da guerra, com duração de cerca de 10 anos, com base em elementos econômicos e políticos. Tudo bem. Mas em verdade suas causas permanecem envoltas em mistério. Talvez existam motivos ideológicos, mais do que objetivos pragmáticos de conquista ou comércio.
Embora os escribas não tenham poupado palavras para exaltar o coragem de Agamenon, a bravura de Aquiles, o patriotismo de Heitor, a formosura de Helena, as aventuras de Ulisses, a fúria de Menelau e as intervenções dos deuses do Olimpo aqui e ali, o conto da guerra dispensa repetições.
Oitenta anos após o fim da guerra troiana, conforme sugere a história, as terras da maioria dos gregos que nela lutaram foram devastadas por invasores dórios. Transpor os mares e conquistar terras alheias das quais pouco se sabe, por motivos também obscuros, não é base para quem fica em casa.
O que se sabe, graças às descobertas arqueológicas de Heinrich Schliemann, em fins do século 19, é que Troia realmente existiu. Situava-se na atual Anatólia, ao sul de Istambul, em algum lugar próximo à cidade de Hisarlik. Após três anos de escavações, Schliemann descobriu mais de oito mil objetos que comprovam a veracidade da existência da cidade destruída por incêndio - talvez em 1180 a.C.,! -, provavelmente por invasores gregos, depois de existir durante pelo menos cinco séculos.
Em suas memórias, o arqueólogo escreveu: “Assim que eu aprendi a falar, meu pai narrou-me os grandes feitos dos heróis homéricos. Eu amava aquelas histórias; elas me fascinavam e me transportavam com o mais alto entusiasmo.
 As primeiras impressões que uma criança recebe nela perduram durante toda a vida; e embora meu destino fosse, aos 14 anos, tornar-me aprendiz no depósito de Ludwig Holtz, na cidadezinha de Furstenberg, em Mecklenburg, em vez de seguir a carreira científica para a qual eu sentia extraordinária predisposição, sempre preservei o mesmo amor pelos homens famosos da Antiguidade que desenvolvi na primeira infância”.
 
História ou mito? Ao caro leitor, deixo as conclusões.

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