No nosso sistema escolar, há rotinas
cristalizadas. Se há algumas mais especiais, uma delas acontece no início
do ano letivo: as conhecidas Semanas Pedagógicas. Ainda que essas
atividades acadêmicas possam ter diferentes nomes, na essência, todas têm
o mesmo objetivo: o de dar as boas-vindas aos professores e gestores das
escolas, “energizando-os” para mais um ano de trabalho. Dedica-se esse
período para planejar e organizar as atividades escolares e,
fundamentalmente, para oferecer capacitação profissional.
Como professora, eu sei o quanto este
rito faz sentido para o recomeço de uma atividade desafiadora, que tem o
dever de influenciar positivamente a vida dos alunos. Mas, será que esse momento
tão especial, dedicado ao professor, está sendo devidamente aproveitado?
Em particular, esses programas de
capacitação têm sido avaliados e reavaliados com alguma periodicidade,
visando à necessária relação com a efetividade no aprendizado dos alunos?
Seria muito distante a conclusão de que os níveis sofríveis, em geral, da
educação brasileira, possam também estar relacionados com essas
recorrentes formas e conteúdos de capacitação do professor?
Ao final do ano passado, o ministro
da Educação, Aloízio Mercadante, em uma entrevista à imprensa, disse que
“se formássemos nossos médicos como formamos nossos professores, os
pacientes morreriam”.
A declaração é alarmante.
Focando tão somente no que acontece nas Semanas Pedagógicas,
podemos identificar que, geralmente, são organizadas sem a atenção que
merecem e sem qualquer avaliação dos resultados na aprendizagem dos
alunos. Fica, pois, evidente o sentido da inércia: “fazer igual todos os
anos, porque sempre foi assim”.
Em qualquer atividade humana, a
quebra da inércia, da rotina, que podemos num termo chamar de inovação, é
fundamental para o seu aprimoramento e os necessários saltos de qualidade.
Parece exagero atribuir a um evento
específico toda a possibilidade de avanços nos resultados educacionais que
temos. Óbvio que há muitos outros passos a serem dados e tantos outros
fatores a serem trabalhados. Porém, por que não pensarmos em utilizar
melhor essa oportunidade para inovar e contribuir na reversão do atual
quadro do ensino no Brasil?
Nesses eventos, podemos começar pela
mudança na forma como são selecionados os temas e os palestrantes. Antes
de buscarmos os assuntos da moda ou os profissionais que têm chamado a
atenção nas mídias, devemos conhecer melhor os professores das nossas
instituições, a quem dirigiremos as capacitações.
Diagnósticos individualizados
permitem aos diretores de escolas saber quais são as fragilidades e as
potencialidades de cada um de seus professores. De posse desses dados,
certamente ficará mais fácil pensar e criar propostas diferenciadas de
cursos e oficinas focados nas reais necessidades, com grande probabilidade
de influenciar a atuação diária do professor em sala de aula
e, consequentemente, de melhorar a aprendizagem do aluno.
É possível também acompanhar os resultados
pós-capacitação, em especial, verificar se o que está sendo aprendido tem
relação e contribui com as demandas e desafios que os professores
enfrentam no seu dia a dia nas salas de aula.
Não são propostas difíceis de serem
realizadas, mas demandam vontade de fazer diferente, de olhar por novos
ângulos, de perguntar sempre se não é possível fazer melhor. Somos
capazes. Então, por que não mudar já?
Comente este artigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário