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sábado

Síndrome de Potsdam

É inegável o grande sucesso da Psicanálise entre as ciências humanas, especialmente no último século. Nesse sentido, homenageio essa ciência utilizando o termo “síndrome” num contexto meramente do imaginário, quem sabe até de forma antropofágica como em alusão a Literatura Modernista do Brasil. 

Dessa maneira, tanto o termo síndrome, quanto o termo Potsdam são meros referenciais de empréstimo subjetivo e genérico ao título desse artigo. O termo “Potsdam” refere-se à cidade alemã vizinha de Berlin, tendo aqui uma funcionalidade similar do termo síndrome, ou seja, dentro de um contexto poético. Cabe salientar que, em Potsdam, houve uma conferência entre dezessete de julho e dois de agosto de 1945 que definiu os novos rumos da Alemanha da Segunda Guerra Mundial e onde se juntaram os aliados para decidir como administrar aquele país, que estava sob rendição. Os objetivos da conferência incluíram igualmente o estabelecimento da nova ordem mundial no pós-guerra.

 Nessa data, nascia a bipolaridade política entre simpatizantes do bloco capitalista americano-europeu versus o socialismo da união soviética. Após essa apresentação do conceito, temos um ponto de partida operacional para o conceito fictício que denomino “Síndrome de Potsdam”. E esse conceito analógico, funcionará como “sintoma-efeito” de um imaginário político que surgiu da necessidade artística, em outros termos, a Síndrome de Potsdam, “sintomaticamente” emanaria na história da literatura, luz ao ideário político. Já na poética de Carlos Drummond de Andrade, “sob análise”, sugere temáticas de poemas imersos no Getulismo, Nazi-fascismo e na proto-guerra fria.


 Tais traços vestigiais estão nas antologias Sentimento do Mundo e Rosa do Povo que são análogas às transformações no mundo daquela época e cujo transbordamento de lirismo, flui para além daquele tempo e percorre um dialogo longevo e polissêmico até a atualidade. Por outro lado, a recorrência em seus versos de termos como: dia, camaradas e amanhecer, poderiam dentro de uma análise do discurso caracterizar monofonismo léxico, em prol de uma voz que beira a um humanismo socialista limítrofe em termos poéticos.
Porém, a imersão Drummondiana numa cultura humanística que busque mobilizar os leitores, protege o seu trabalho contra uma resenha panfletária e desprovida de historicidade. Assim, como sua contínua reflexão que se baseia em documentos de época, mas encarados de forma monumental, embora haja o perigo da crítica especializada, a quem tenha os sintomas desta Síndrome sem se preocupar em cair no canto popularesco. Este é o poeta Thiago de Mello, que, em “A canção o amor armado”, dispõe da poesia mais transparente e militante do Brasil. Assim como uma clara oposição ao golpe militar de 64. Esse poeta é, sem dúvida, o detentor do verso mais “sintomático” e insurgente no Brasil. O termo “sintomático” aqui faz analogia à maneira genérica da qual o psicanalista Jaques Lacan empregava, ou seja, “O homem parlante é um ser doente e não tem acesso direto a realidade, pois sofre do intermédio dessa pela linguagem”.

Da mesma maneira, o poeta e ativista Ferreira Gullar, sob a análise de “Potsdam” responderia aos sintomas da "síndrome". Num primeiro momento, com a poesia Agosto 1964 e, posteriormente, com uma poesia mais polissêmica, longeva e menos datada. Moral da história, enquanto considerarmos a poética pelos olhos de um imanentismo arbitrário e aquém a experiências na realidade imaginária, seu sentido se limitará a um artefato extramundo.

Nessas circunstâncias, as insurgências poéticas engajadas, ainda serão consideradas anômalas e seu status poético será reduzido enquanto houver tais pré-conceitos estéticos. Além de um déficit em multivalência analítica que impetra contra esta poética uma sacralização dogmática, um puritanismo dialético e uma cristalização que a inviabiliza de adentrar no rol de prestígio da Poética. Aliás, reconhecimento que a narrativa alcançou flertando por um grande tempo com o “Realismo”.

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