I made this widget at MyFlashFetish.com.

terça-feira

O Brasil já se consagrou como o país do "jeitinho".



Em alguns momentos chegamos a nos orgulhar bastante dessa característica que seria só nossa, apenas deste país tropical, bonito por natureza e abençoado por Deus. Esse jeitinho se constituiria numa espécie de aditivo tupiniquim para o qual apelamos quando a coisa emperra, não anda ou anda mal e as regras vigentes ajudam pouco. Há quem diga que Walt Disney criou o Zé Carioca, um de seus personagens famosos, justo observando a malandragem do carioca que incorporaria o típico jeitinho nacional.

No auge da sua exitosa carreira o piloto Ayrton Senna, tido como o melhor da história da Fórmula 1, foi analisado, avaliado, dissecado, por vários ângulos por quem desejava encontra explicação para tanto talento. Em dado momento alguém, salvo leve engano um jornalista inglês, disse que o que fazia de Senna um piloto excepcional era o jeitinho brasileiro de guiar o carro e cujo ouvido dialogava eficientemente com sua máquina. Idiossincrasia brasileira nas curvas, nas ultrapassagens, nas marchas o levava ao pódio diante do espanto de alguns concorrentes. É possível algo assim? Não sei, há sociólogos e antropólogos dizendo que sim.

Entretanto, essa capacidade de improvisar, de manifestar um espírito criativo que marcaria a cultura do brasileiro na hora de alcançar determinado beneficio pessoal está revelando também sua faceta perversa. E atrás delas muitos se escondem.

Um grupo de pesquisadores, inclusive estrangeiros, estudou a questão e concluiu que “a relação entre moralidade e jeitinho é especialmente curiosa, pois alguns afirmam que a prática generalizada do jeitinho cria condições para o estabelecimento de um clima de cinismo e delinquência para julgar moralmente as ações dos outros, além de modificar a maneira como atos morais são julgados pelas pessoas”.

Assim, ao mesmo tempo em que esse jeitinho se refere a certa habilidade sutil parar superar determinado problema, contornar obstáculos, ele tem se ligado, com frequência cada vez maior, a comportamentos imorais. A realidade é dura: o jeitinho tem contribuído inclusive para que a corrupção campeie desenfreadamente entre nós. E tem impedido que posturas republicanas se alastrem em todas as esferas de governo com terríveis prejuízos para toda a população.

Vamos pegar o caso da semana passada (segundo a Folha de S.Paulo): “Verbas destinadas a obras públicas pelo líder do PMDB na Câmara, Enrique Eduardo Alves (RN), foram parar na empresa de um assessor do próprio deputado”. Coisa de gênio? Ou coisa de malandro? Pode uma coisa dessas? Não poucos entendidos no assunto destacaram que legalmente não existe buraco no procedimento desse parlamentar, ele seguiu o trâmite estabelecido no parlamento. Certo, é legal essa malandragem, mas moralmente isso é aceitável?

Além do jeitinho (na prática certa mania de inventar desculpas para fazer a coisa errada) nosso cotidiano mostra lista interminável de atitudes que revelam uma moral bastante elástica de nossa parte. Quando listamos o que somos capazes de fazer ficamos quase encabulados para condenar a atitude desse parlamentar. Creio que é interessante refletir a respeito, pois temos incorporados atitudes inadequadas, moralmente condenáveis, com as desculpas mais incríveis. Como por exemplo, ocupar a vaga para o portador de deficiência no estacionamento sob a alegação de que ela estava vazia...e por aí vai....
Comente este artigo, participe...


Nenhum comentário: