Na vida fazemos amigos, temos colegas, vislumbramos seres que passam ao nosso lado. Temos todos algo em comum, pelo menos aqueles que aprenderam alguma coisa na vida, as lembranças de pessoas que nos ensinaram com o exemplo. Recordamos pouco o que nos dizem, mas com certeza lembramos os exemplos de vida. Tenho um companheiro de luta no ensino, pelo menos assim o considero, já que ele vive o que predica. Comentou-me que tinha escrito umas linhas para o dia do professor em 2009. Pedi que me deixasse ler o texto, assim o fez e hoje lhe dedico minha coluna. Não somente pelo que fala do professor, mas principalmente porque também me fez lembrar minha avó. Ela não foi professora, mas foi um poço de sabedoria, apesar de não ter terminado o primário. Naquela época as mulheres não necessitavam estudar. Para que? Somente serviam para ter filhos e tomar conta da família. Duas avós, duas histórias, duas mulheres que ensinaram com seu exemplo. Nós, professores também tentamos fazer isto. Talvez voltem os tempos que sejamos valorizados e tenhamos alunos que sejam estudantes e não somente freqüentadores de salas de aula.
“Inquietação
Hoje, 15/10/09, acordei inquieto e com o desejo de expressar o que estava sentindo após 31 anos exercendo a profissão de professor.
Comecei por lembrar minha vida de estudante, revendo em minha memória filmes acontecidos ainda no que era chamado de “Préprimário”, momento em que a professora era muito importante e admirada. Lembro ainda hoje seu nome, Vani.
Depois lembrei que estudava em uma escola pública, recém inaugurada pelo então governador Carlos Lacerda, época em que o ensino público era de qualidade e o professor valorizado. Minha avó era um exemplo. Naquele momento, já aposentada, criou meu pai sozinha e ainda pode comprar uma casa, com apenas uma matrícula no Estado.
Hoje, vejo que uma professora, em situação como a de minha avó, certamente terá muita dificuldade em educar um filho e, provavelmente, não conseguirá realizar o sonho de comprar uma casa. Este é o lado cruel daqueles que abraçam a carreira mais nobre da face da Terra. Hoje, uma matrícula no Estado, tem remuneração próxima a dois salários mínimos, o que não condiz com o papel socialmente desempenhado por um professor.
Somos nós, professores, que damos vida a qualquer outra profissão, que ao compartilhamos nossas experiências, iluminamos caminhos, proporcionando descobertas, estimulando o ato de criar e construir. Trabalhamos quase sem descansar. Estudamos, preparamos aulas e provas, organizamos trabalhos etc.. Somos 24h professores. Isto acarreta o principal desconforto que tenho enquanto pai. Convivi menos com minhas filhas e mais com meu trabalho, Três turnos diários. Justifico tudo em nome do conforto que sempre quis que elas tivessem, mas pergunto: será que agi corretamente? Será que era isso que elas precisavam e queriam? Penso muito nisso.
Vi famílias que, frustradas com o insucesso em educar, mudaram a postura frente ao professor e a Escola, delegando 100% desta árdua missão para a instituição que passou a ser serviçal e não parceira ao ter que assumir a total responsabilidade sobre as transformações exigidas pelos preceitos éticos e morais impostos pela nossa sociedade.
Uma professora, a coisa de duas semanas, me contou que escreveu um bilhete na agenda de um de seus alunos, alertando a família sobre o não cumprimento da tarefa de casa. Em resposta a mãe escreveu: “O que a Escola está fazendo para resolver o problema”?
Apesar de tudo, não me arrependo nenhum minuto sobre a escolha que fiz. Seria professor novamente e novamente e novamente. Sinto prazer em perceber que contribuo para um mundo mais justo, mais ético e mais humano. Este é o legado deixado por nós.
Enfim, não sou um bom escritor e com certeza minha pretensão foi só dividir com você algumas reflexões que faço. Não vou dar parabéns pelo seu dia e sim reverenciá-lo (a) por ter feito uma escolha sublime. Comparo o professor a uma mãe. Preparamos-nos, geramos, criamos e formamos. Temos sobre qualquer outro profissional um diferencial: Temos em nossas mãos a matriz de todas as profissões, sem nós o mundo não evoluiria.
André Menezes”
A educação ainda tem esperança enquanto existam professores que amem ensinar.
E você ama o que faz?
Por Ricardo Irigoyen.( tatirigoyen@yahoo.com.br )
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