Quando
em 2011, Dilma Rousseff decidiu por não receber a Nobel da Paz, Shirin Ebadi,
militante iraniana dos direitos humanos, para não comprometer as relações
econômicas com o tirano Mahmoud Ahmadinejad, o governo petista revelava um
rosto que quase ninguém imaginava ter: o do pragmatismo antiético e do desprezo
humano.
Embora tenha passado despercebido, sem escândalos e manifestações de
rua, a escolha pragmática tem alto valor simbólico para o que vem depois:
expoentes históricos do Partido dos Trabalhadores metidos em trapaças e
corrupção; as alianças e os arranjos mais podres e impensáveis registrados nas
fotos de Lula ao lado de Maluf e de Collor; o esforço descomunal que colocou o
embusteiro Renan Calheiros na presidência do Senado (até o Paim entrou nessa);
o apoio à Belo Monte: danem-se a floresta, as populações indígenas e
ribeirinhas e salve a Camargo Corrêa; a presença da presidente na inauguração
da aberração chamada Templo de Salomão.
Como
se já não bastasse, parecendo aplicar, sem piedade, jabs e hooks na Nobel da
Paz, Dilma fez um discurso torvo por um diálogo com os genocidas do Estado
Islâmico. A caterva de petistas e outros patifes aplaudiram Eduardo Cunha em
sua performance na palhaçada da CPI da Petrobras há semanas. Ao se recusar em
receber Shirin Abadi, em nome do pragmatismo político, conduta até então
própria de governos oportunistas e de direita, o PT optou por se unir às piores
representações e ideias. Na defesa bélica, petistas soldados cabeças de papel
culpam a mídia, atiram nos tucanos, acusam o passado e vomitam as políticas
sociais caritativas: Bolsa Família para os pobres, política econômica para o
capital financeiro. Não é preciso do PT para fazer isso.
Ao
longo dos anos de governo, o que Lula e Dilma estão conseguindo realizar é o
desmantelamento dos princípios que estão na razão e no berço do PT; a
desmobilização das organizações sociais e a fragilização da democracia; o
investimento na alienação e na naturalização da corrupção. Em tempos de
individualismos, corporações e de cinismo, não se erguem bandeiras contra as
empreiteiras, os bancos, o shopping do Congresso e a bancada evangélica, por
exemplo.
A tragédia que estamos vivendo, é a de que não há mais diferenças
entre os partidos, entre o discurso ético e justo e a retórica para manter
privilégios. Temos que avançar e apostar em um processo civilizatório, em que
os direitos humanos, inclusive o das empregadas domésticas, dos
afrodescendentes e dos indígenas, as ciclovias, o selo nos alimentos
transgênicos, o fim dos investimentos empresariais em partidos e políticos, os
parques verdes e os espaços públicos, a justiça e a democracia conformem os
seus fundamentos.
Sobretudo, que Dilma ou quem quer que seja o presidente,
receba a Shirin Ebadi. Civilização e justiça não fazem mal a ninguém.
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