As situações dos
dois países são, obviamente, distintas. Mas podem servir para levantar ao menos
o direito sagrado à dúvida, tão massacrado em tempos de discursos autoritários
à esquerda e à direita no Brasil. Enquanto a Suécia fecha presídios por falta
de condenados, entre 2012 e 2013 o número de detentos no sistema penitenciário
brasileiro aumentou 5,37%. Os dados estão no 8º Anuário de Segurança Pública,
divulgado recentemente pela organização não governamental Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (FBSP). Dos 538 mil presos, a maioria, 61,7%, é formada por
negros. Pretos e pardos também são os que mais morrem violentamente,
representando 68% dos homicídios no país.
O total de vagas
nos presídios cresceu em ritmo inferior ao do aumento do número de detentos.
Resultado: déficit de 220 mil vagas no sistema. Segundo Renato Sérgio de Lima,
vice-presidente do Conselho de Administração do fórum, a morosidade do
Judiciário é um dos fatores que agravam a situação. "Temos uma situação em
que 40% dos presos são provisórios e estão aguardando julgamento. Essa já era
uma situação apontada no último relatório", afirmou Lima, em entrevista à
Agência Brasil.
Quase metade da
população carcerária - 49% - está em reclusão por crimes contra o patrimônio. O
tráfico de drogas responde por 26% das prisões. Presos por homicídio são 12%.
Esse percentual também se aplica aos adolescentes em conflito com a lei - 11%
dos que estão internados atentaram contra a vida de outra pessoa. De acordo com
Lima, há uma distorção na aplicação dessa medida socioeducativa, pois ela só
deveria ser aplicada em casos de homicídio ou latrocínio. Atualmente, a maioria
das internações é por motivos menos graves.
Pesquisador do
Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP), Bruno
Paes Manso diz que é necessário maior rigor no cumprimento das leis de
execuções penais no Brasil. "Somos o quarto país que mais aprisiona no
mundo. Boa parte dos que estão presos praticou crimes leves, como furtos,
tráfico de drogas, são primários muitas vezes, e acabam se misturando com
pessoas que estão lá por terem praticado diversos crimes."
Especialistas
apontam que Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro têm boas
práticas de gestão de segurança pública. "São programas que deram certo
por determinados períodos. E por que funcionou? As forças policiais foram
integradas, áreas territoriais foram compatibilizadas, houve uso intensivo de
informação, aperfeiçoamento da inteligência e participação comunitária",
afirmou Bruno Paes. A descontinuidade das políticas públicas, que muitas vezes
se tornam marca da gestão de um governo, é fator que pode impedir o
desenvolvimento destas boas práticas.
Reformas
estruturais do sistema de segurança pública capazes de romper com o modelo
atual, ultrapassado e ineficiente, são consideradas fundamentais. Um grande
desafio, que precisa ser encarado com o máximo de seriedade pelos governantes.
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