"Sobre
a brevidade da vida", um
célebre pensador e advogado romano, chamado Sêneca, afirmava que devíamos nos
juntar àqueles que nunca nos abandonam, não causam nossa morte, mas nos ensinam
a morrer bem, não levarão nossos anos, mas não nos darão os seus, isto é, os
grandes homens do passado, aqueles que compõem um diálogo universal sobre as
maiores questões da vida humana. Com efeito, este é o modo humano de viver: a
referência e a reverência ao conhecimento dos anteriores que se não tivessem
abreviado as questões ou, pelo menos, as estabelecido antes, nos levariam a
sucumbir na brevidade da vida. São pessoas que tinham os mesmos desejos de
busca da verdade, da justiça etc., e que estão prontos para nos auxiliar a
qualquer tempo: são amigos, na melhor acepção da palavra.
O homem ganha em qualidade quando lê e se
insere no diálogo universal, pois a literatura, por exemplo, revela-nos as
múltiplas possibilidades humanas através dos temas e das personagens, tipos
humanos dos mais variados. Aliás, a respeito disso, a pesquisadora Karla Haydê
– bibliotecária, psicopedagoga e mestre em Educação – afirma a importância dos
clássicos da literatura para a formação, no período infantojuvenil, num mundo
de informações em excesso: o continente das obras perenes é fonte não só de
conhecimento, mas de sabedoria.
E se cada biografia é sempre um drama, no
sentido de ser uma história com seus desenlaces, é na dimensão poética da
linguagem, a das possibilidades e das impressões, que se encontra A QUE um
homem pode aspirar. Só podemos querer e lutar por um ser que, antes,
imaginamos. Em parte, é por isso, por exemplo, que, em Joaçaba, o juiz Marcio
Bragaglia, amparado pela lei, decidiu trocar alguns dias das penas de
criminosos sob sua responsabilidade pela leitura de clássicos da literatura. No
Congresso Nacional de Literatura e História Pessoal (ConaLit), o juiz disse que
após ler Macbeth, de Shakespeare, uma detenta disse: "Podem colocar fogo
em todas as cópias, mas ninguém mais arranca este livro de dentro de mim".
Segundo o Conselho Nacional de Justiça, "dos 200 presos que já
participaram do projeto e cumpriram a totalidade de sua pena, houve apenas um
caso de reincidência”.
Logo, é útil e saudável que o homem seja
apresentado aos clássicos da literatura e incentivado a viajar com Shakespeare
e Dante, a visitar o tipo brasileiro com Machado e Lima Barreto, a lidar com o
sentida vida através de W. S. Maugham, a tomar conhecimento do seu
desconhecimento nos versos de Bruno Tolentino: não evitará que se erre e
tropece, mas treinará e “adestrará” a imaginação.
Que motivo há para abreviar a vida e travar
desarmado batalhas como quem não tem do seu lado amigos dos mais inteligentes,
uma tradição milenar – herança humanizadora, embora, muito frequentemente, tratada
como frivolidade? Com efeito, um homem de sucesso não o espera para ficar
inteligente, mas o conquista através dela. Não que a cultura literária vá
determinar um destino, mas pelo fato de que ela apresenta muitos sentidos para
essa viagem que é a vida. Somos nós que determinamos o que seremos – é claro
que dialogando com a realidade. Como dizia o poeta Antonio Machado:
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