Quem almoça fora todos os dias sabe que aquela comida variada e colorida
de restaurante cai bem, e muito. Mas só nos primeiros dias. Depois, de um certo
tempo, vem aquela vontade de comer um bom feijão com arroz, delicioso e que
nunca enjoa. Perdoem-me os donos de restaurantes pela analogia; o propósito
dessa crônica é outro. Não comida, mas educação.
Veja bem, não sou nenhum cinquentão na educação, mas tenho já uma
considerável estrada no ofício de professor. Tenho acompanhado o andar da
carruagem e visto como as abóboras têm-se acomodado. Nos últimos anos, o ensino
no Brasil amarga resultados de último mundo. Volta e meia, lá vem alguma
reforma na educação, com a defesa de que é preciso melhorá-la. E até agora, de
mudanças em mudanças, ainda estamos andando em círculo, apenas. E não faltam
teóricos a dizer isso, a sugerir aquilo, a colocar o professor, um herói quase
anônimo, como, muitas vezes, o perfeito vilão. Boa parte dessa gente jamais
pisou em uma sala de aula ou recebeu uma formação voltada para o final feliz de
uma história que na verdade não existe. É gente que nunca teve uma arma
apontada, que nunca sofreu ameaça de vida, que jamais ouviu palavras obscenas,
que nunca fora espancado, que não conviveu com drogados...
Olha bem esse sistema que está aí no Estado. Irá aniquilar a evasão
escolar? Irá detonar a reprovação? Creio que não. Não sou pessimista, mas
conheço o cotidiano de escola e sala de aula. Pelo jeito, as coisas vão piorar.
Se antes os alunos já tinham dificuldade de dar conta do que estudavam, agora
vão ficar enredados numa teia de emaranhados a resolver durante o ano,
levando-os à impotência e ao abandono da escola.
E os professores? Precisam
trabalhar em várias escolas e turnos para alcançarem a lajota que se quebrou,
sem tempo, nem disposição por causa do corre-corre e da pressão de trabalho
decorrente dos inúmeros problemas enfrentados todos os dias. Então, como vão
interagir e planejar se o sistema é engessado? É uma contradição ter um tipo de
organização escolar e viver em outro de modo surreal. Se até os tablets tiveram
apagão, como essa proposta poderá funcionar?
Por isso, meus amigos, chega de conversa mole. Melhor um feijão com arroz
e bem-feito. O ensino precisa ser simples, descomplicado e eficiente. A questão
é mais que defender ideologias curriculares de esquerda ou de direita. É
defender o que funciona e traz resultados. Os governos estufam as escolas e as
universidades de gente como se fosse sobrecarregar um carro de 50 hp com uma
dezena de pessoas. Impossível! O motor arria. Nem vai na banguela. Quem sabe turmas
de até 20 alunos? Professores com turno de planejamento e outro para trabalho
em sala de aula? Aulas de reforço semanal para ajudar alunos quando o sinal de
alerta piscar nas avaliações? Quem sabe total informatização das escolas?
Investimento na estrutura física? E por que não e, principalmente, melhores
salários aos professores? É hora de parar com esse discurso de “trabalhadores”
da educação, para trocar por “profissionais” da educação, como de fato
merecemos ser reconhecidos, até porque pelo que mostra a história,
trabalhadores comem carne de segunda e os profissionais, de primeira. Pode ter
certeza que essas sugestões dão mais certo que ideias mirabolantes.
Alguém pode dizer que sou retrógrado, um saudosista, um tradicional de
jaleco... que isso importa? Então me digam de onde surgiram tantas mentes
magníficas? Que impulsionaram o conhecimento e a tecnologia até o mundo atual?
Era tudo gente do tempo da tabuada, da cordialidade e da reverência nas
relações. E a escola funcionava melhor.
Perdeste a fome? Que tal um feijão com arroz, um pedaço de carne, uma salada?
Perdeste a fome? Que tal um feijão com arroz, um pedaço de carne, uma salada?
Volnei Ceron dos Santos, professor e especialista.
Comente o post, participe...
Nenhum comentário:
Postar um comentário