Soluções mágicas não existem, aliás, as mesmas, resultaram nos índices
que hoje fazem nossa sociedade declarar sua derrota perante os desafios da
existência. Então, diante das propostas de mudanças velozes, junto, veio, por
outro lado, ofertas cada vez mais nocivas a nossa sociedade, afinal, a ausência
de comprometimento com as transformações sociais promoveram o crescimento
vertiginoso da violência, do uso e consumo de drogas, da desagregação familiar,
do sofrimento e dos elevados casos de suicídio infantil (que são ocultos), da
pandemia dos transtornos de humor, principalmente, a depressão.
Aumentou o acesso aos prazeres rápidos e fugazes. Tornaram as crianças,
os adolescentes, os pais e a sociedade reféns da tecnologia, pois assim, são
mantidos contidos, isoladamente, em suas estações tecnológicas, em seus
notebooks, seus Ipods, seus tablets, sem que olhem, vislumbrem e interpretem a
realidade existencial, afastando-os, cada vez mais, da proximidade com o real e
doutrinando-os a virtualidade, afinal, doutrinas, independente de quais sejam,
sempre levaram o homem a um ilusório conforto social, acomodando-o e
alienando-o em relação aos interesses de um sistema, cujas pessoas são apenas
peças mobilizadas em favor das elites dominadoras.
É inadequada, inútil e completamente demagógica a intenção do Estado em
distribuir computadores a seus alunos, sem que esteja definido um projeto
pedagógico. Tecnologizar-se sem critérios e objetivos bem definidos, satisfaz
apenas as necessidades de um sistema onde, cada qual, é apenas mais um na
escala de consumo, e isso, aos olhos da comodidade que o Estado espera, é
extremamente confortável aos múltiplos interesses que correspondem às
expectativas dos que controlam os meios de produção, pois, quanto mais afastado
o homem estiver de suas potencialidades intelectuais, desprovido da capacidade
em não apenas pensar, mas, interpretar e analisar os fenômenos sociais, muito
mais vulnerável estará em relação a manipulação política, econômica e
religiosa.
Então, tais estratégias de adoecimento social começam na escola,
tornando nossas crianças, pequenas peças de sórdidos interesses ao serem
classificadas como o futuro de uma nação.
Não, elas não são o futuro, mas sim, o presente mais real que existe,
pois, se as analisarmos não nos depararemos com dissimulações, mas,
infelizmente, com manifestações que expõem a miséria existencial, próprias aos
adultos, refletidas em suas falas, olhares, gestos e emoções expressas através
de mecanismos transferenciais, onde elas conseguem expor o mundo que são dentro
do mundo que vivem.
Nossas crianças estão gritando por socorro em um mundo que não as vê em
suas infâncias, mas, que tenta impor contextos que as afastem das expressões
próprias das etapas inerentes a essa fase que tanto necessita de suporte para
que elas próprias possam estruturar níveis de sustentação interna, cujo sentido
será torná-las capazes em enfrentar as vicissitudes da existência.
Crianças apresentam o que são, sem que se preocupem se estão agradando
ou não, e é justamente assim que deveriam ser estimuladas em suas vivências,
transformando cada evento da vida nas possibilidades quanto à compreensão das
adversidades que, no atual contexto, as afligem, as ferem e as tornam
elevadamente ansiosas, agressivas, violentas, entristecidas em etapas
posteriores, desprovidas de capacidades para poderem transpor os traumas
provenientes de um Estado omisso em relação a necessidade de implantação de
programas de prevenção a depressão e outros transtornos, desde a mais tenra
idade.
Nossas crianças estão gritando por socorro, estão clamando por infâncias
que delas são seqüestradas desde o ambiente escolar, até mesmo, nas relações
familiares, afinal, hoje exigem que comportem-se como adultos, que tenham
capacidade em compreender situações impróprias ao universo infantil, sendo
então, subtraídas no tempo para serem crianças e arremessadas e cobradas em
relação as responsabilidades próprias a adultos.
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