Em palestra proferida
em 1916 por C. G. Jung, intitulada A estrutura do inconsciente, lê-se: "A
sociedade, acentuando automaticamente as qualidades coletivas de seus
indivíduos representativos, premia a mediocridade e tudo o que se dispõe a
vegetar num caminho fácil e imoral. As personalidades individualizadas e
diferenciadas são arrancadas pela raiz.
Tal processo se
inicia na escola, continua na universidade e predomina em todos os setores
dirigidos pelo estado". Com essa citação fundamento a proposta de que o
estágio atual do processo de analfabetismo funcional legalizado é o resultado
da dominação dos valores individuais pelos coletivos em proveito de uma
situação de corrupção generalizada. É bom lembrar que as modificações na
pretensa educação pública visam ser de âmbito nacional!
Agora, lembremos
alguns fatos: com a criação do Colégio Pedro II, em 1837, estudava-se, no
Brasil, francês, inglês, alemão, latim e grego em regime obrigatório, mais o
italiano (opcional). No Rio Grande do Sul, na primeira metade de século passado,
estudava-se grego, latim, inglês e alemão.
Isso acontecia porque as línguas são
mediadoras para ações políticas, comerciais e culturais. Em 1915 o grego foi
retirado do currículo, o latim foi a seguir banido, o inglês e o francês
permaneceram mas, aos poucos, a simplificação curricular virou moda - numa
progressão inversamente proporcional ao progresso científico e tecnológico -
chegando, na década de 1970, aos acréscimos curriculares que visavam à formação
de mão de obra técnica sem o mínimo indispensável para um trabalho de média
qualidade, atingindo, atualmente, o coroamento daquela progressão mediante o
"ensino" politécnico.
Considero desnecessário tecer considerações
sobre o quanto é descabido falar em "politécnico"
com respeito às escolas da rede pública e interessante a concomitância da
aceleração na derrocada da educação brasileira com o surgimento de programas
internacionais de apoio ao desenvolvimento, direcionados a diversas áreas
carentes em países como o Brasil.
E o que dizer da
greve que se avizinha? O Cpers sugeriu a greve para 2014. Óbvio! Por que é
óbvio? Porque o Sindicato sabe que assim fazendo a coletividade docente vai
querer o contrário! No presente ano ocorreram várias manifestações populares -
que na verdade resultam pró-governo! - e, portanto, é o momento propício no
consenso da maioria. Mas, não é o momento propício e nem em 2014 o será.
Caso ocorra, ela
será ineficaz, continuará o processo de analfabetismo funcional legalizado, o
governo estadual sairá fortalecido politicamente e alguns membros do Sindicato
talvez sejam reconhecidos por segmentos da próxima gestão - como já aconteceu
em épocas anteriores. Os programas internacionais para apoiar o desenvolvimento
da educação, saúde e assistência social estão em descompasso com a vontade
política dos nossos governos.
Nossa sociedade é
por demais numerosa e diversificada culturalmente para que se possa pensar em
uma política de educação homogênea em âmbito nacional, a não ser que seja para
destruir as individualidades e a moralidade de uma liberdade de pensamento, em
proveito de grupos minoritários.
O médio unificado é um atentado às diferenças
individuais, o Enem é uma tentativa ilusória de mostrar interdisciplinaridade
onde nem as disciplinas são estudadas a contento, como já foram em épocas
passadas.
Somos levados a
concluir que Jung estava e está com a razão: a imoralidade coletiva oblitera a
formação individual e livre de nossos alunos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário