Dentre os
efeitos positivos da mobilização popular em curso no Brasil, está a
sensibilização do Poder Legislativo para a proposta da presidente Dilma
Rousseff, que havia sido rejeitada pelo Parlamento em 2012, de destinar ao
ensino os royalties e participações especiais arrecadados com as futuras
concessões petrolíferas. O fato de o Congresso Nacional ter aprovado o projeto
com alterações, reservando 25% dos recursos para a saúde, não prejudica muito
os efeitos práticos da medida, até porque foi mantido o aporte de 50% dos
recursos do Fundo Social do Pré-Sal na educação até que se atinja o índice de
10% do PIB. Espera-se que a matéria seja rapidamente votada no Senado e
sancionada.
Com isso,
as imensas reservas de petróleo a serem prospectadas a partir de agora no
Brasil, embora se esgotem um dia, terão impacto perene sobre o desenvolvimento,
pois não há investimento mais importante do que no ensino, base para todos os
avanços, inclusive na saúde. Não há maior patrimônio para uma nação do que a
boa formação educacional e acadêmica de seu povo. Hoje, por ainda não termos
democratizado a qualidade do ensino básico gratuito e o acesso a boas
universidades, estamos pagando um alto preço, na forma do chamado apagão
profissional, com a carência de recursos humanos qualificados em várias áreas,
para fazer frente à expansão de nossa economia.
É
fundamental, portanto, que o Brasil saiba utilizar com eficácia e inteligência
o vultoso montante financeiro que passará a contemplar a educação. Nesse
sentido, uma das prioridades é a solução do maior problema do setor: a falta de
incentivo aos professores, especialmente da Educação Básica, constituída pelo
Ensino Fundamental e o Médio. Os seus salários, na média da realidade nacional,
não são adequados. Ademais, lhes faltam capacitação permanente e a respectiva
avaliação periódica. Todos esses fatores têm impacto negativo na qualidade da
educação ministrada às nossas crianças e jovens.
Por isso, o
Brasil está muito aquém dos índices razoáveis de aproveitamento, como se pode
observar numa síntese dos problemas que enfrentamos nesse campo tão decisivo:
ocupamos o 53º lugar, num universo de 65 países listados pelo Programa
Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), da 7ª série em diante, coordenado
pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE); apesar das
políticas públicas que incentivaram a matrícula de 98% de crianças entre 6 e 12
anos, mais de 700 mil ainda estão fora da escola (IBGE); o analfabetismo
pleno, mais o funcional, atinge cerca de 30% da população com mais de 15 anos;
34% dos alunos que chegam ao 5º ano de escolarização não conseguem ler e 20%
dos jovens que concluem o Ensino Fundamental e que moram nas grandes cidades
não dominam a leitura e a escrita (fonte: Movimento Todos pela Educação); e
elevado número de jovens fora do Ensino Superior.
Não podemos
perder a oportunidade histórica de
solucionar definitivamente essas questões graves, que se constituem em dos
indicadores que nos separam das nações desenvolvidas. Se fizermos isso com
sucesso e bons resultados, o nosso petróleo, mesmo depois de esgotado, será
eterno, pois se constituirá no combustível do conhecimento. Esse avanço
evidencia que as reivindicações populares têm resultados nas democracias. Por
isso mesmo, é preciso repudiar a violência, os saques e a baderna, crimes que
apenas prejudicam a mobilização cívica da sociedade.
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