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A sustent-habilidade!
Há quase 30 anos, em 1987, na
Comissão Brundtland, definiu-se o termo sustentabilidade que se resume em algo
como “desenvolver-se sem tirar as condições das gerações vindouras de o mesmo
realizarem”. Tanto tempo depois, onde chegamos? O que é desenvolvimento
sustentável? Como medir? Alguém responda, por favor! Pois é, está faltando
habilidade pra nossa sustentabilidade.
Adicione-se a isso fatores dinâmicos tais como, mudança de preços relativos de
alimentos, crescimento da população global em 40% desde que o termo foi
cunhado, Reunificação da União Soviética, Separação de Eritreia da Etiopia,
Reunificação da Alemanha (1990) e fim do Apartheid (1990), Guerra do Golfo
(1990), Guerra da Chechênia (1994), Guerra da Bósnia (1995), Segunda Guerra do
Congo (1998), 3,8 milhões de mortos no que ficou conhecido com a Guerra Mundial
Africana, Genocídio de Ruanda (1994), Afeganistão (2001), Iraque (2003), Síria
(2011) - apenas para citar alguns.
Não dá pra negar que o mundo é outro hoje e continuar perseguindo a
sustentabilidade concebida há tanto tempo é um equívoco. Aliás, essa
sustentabilidade não existe além do conceito. A organização global avançou em
termos sociais e ambientais nos últimos anos e não porque se busca a
sustentabilidade, mas porque algumas sociedades tiveram a habilidade de
entender que vivemos em um mundo onde, apesar de uma vida não ter preço, tem
custo.
O principal aspecto a compreender é o de como valorar os custos implícitos que
são indevida e indistintamente pagos por todos e direcioná-los aos seus
verdadeiros responsáveis. Difícil? Não! O que é um crédito de carbono senão um
instrumento que permite a transferência de propriedade do direito de emissões?
Ou seja, a precificação de uma externalidade negativa pela sua evicção?
O que é uma medida de compensação ambiental senão uma forma de tangibilizar uma
perda ou risco ambiental iminente através de uma ação mensurável? Sem querer
exaurir todos os exemplos, prometo ser esse o último: o que é a proibição do
fumo em locais públicos senão impedir que a saúde de não fumantes ou fumantes
passivos, se torne em custo para toda a sociedade em virtude do mal hábito de
alguns?
Assim, a sustentabilidade deve ter objetivos específicos que a possam medir.
Qual o custo de não ser sustentável? Sobre quem recai e sobre quem deveria
recair? Uma vez respondidas essas perguntas haverá como realocar os custos aos
seus verdadeiros responsáveis. E, para isso acontecer, não adianta esperar que
o senso de responsabilidade corporativa moderna seja suficiente. Há que haver
regulação.
Assim, promover a sustentabilidade é uma obrigação do Estado, pois passa por
redistribuir recursos e ônus entre os diferentes cidadãos e não é possível que
a iniciativa privada promova isso por si só. Não é esse o papel da iniciativa
privada na organização econômica em que vivemos.
Daí decorre a conclusão natural que qualquer que seja o esforço de uma corporação
em busca da sustentabilidade, o objetivo maior é o resultado de marketing que
isso pode gerar. Isso não é errado, ao contrário, já que procuram ocupar um
espaço em que a sociedade não conseguiu se fazer presente como deveria para com
seus cidadãos.
Entretanto, essa tentativa de promover a sustentabilidade é insustentável, pois
só funciona enquanto interessar ao capitalista e, não raro, vai deixar de
interessar. Piores são os casos daqueles que nem sequer promovem qualquer ação
e promovem malabarismos de comunicação e marketing para demonstrar o
compromisso com o meio ambiente pelo simples fato de atenderam à lei.
Barbaridade, mas que acontece diariamente.
Essa reflexão nos leva à conclusão que a sustentabilidade é algo muito mais
profundo e complexo que uma embalagem reciclável. E não me venham com a
conversa de que pelo menos estamos fazendo alguma coisa.
Para se almejar a sustentabilidade há pré-requisitos: maturidade do
representante popular e também do representado, avançado senso de cidadania e
responsabilidade, clareza regulatória, ambiente democrático, instituições com
mandato e mecanismos de apelo funcionais etc. Há que se desenvolver diversas
habilidades. Só assim poderemos almejar a sustent-habilidade.
Por Felipe Bottini.
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