Entre 229 mil (Fórum Brasileiro deSegurança Pública - ano 2013) e
meio milhão de veículos (ver Antonio Penteado Mendonça, Estadão 20/1/14) são
furtados ou roubados por ano no Brasil. Outros países já contaram com números
expressivos, bastante parecidos. Grã-Bretanha, por exemplo (consoante
informação do articulista citado), que já reduziu sensivelmente seus
escandalosos números.
É baixa, hoje, a taxa de criminalidade nesse país (como
em praticamente toda a Europa, que viveu a fase áurea do estado de bem-estar
social nas décadas de 60/80).
O que foi feito? Mais do que boas
intenções. Criaram-se eficazes programas de treinamento, inteligência,
prevenção, investigação e atuação rápida das forças policiais. Ou seja:
incrementou-se a certeza do castigo mais justo possível (antecedido da
localização e apreensão de uma enorme quantidade de veículo furtado ou
roubado). Serviço público de qualidade (caro, mas de qualidade). Isso não
existe no setor público brasileiro, ressalvadas pouquíssimas áreas (vacinação,
por exemplo).
Eis uma área (localização e
apreensão de roubo e furtos de veículos) que talvez fosse o caso de se
privatizar. Articulando-se um grande programa de Parceria Público-Privada
(sobretudo com as seguradoras). O que o legislador brasileiro tem feito
(também) nesse setor da criminalidade? Edição de novas leis penais mais duras
ou obstaculizadoras.
É o que ele pode fazer (diante de sua incapacidade para
resolver problemas sociais).
Não podendo cuidar da certeza do
castigo mais justo possível (que é um princípio de solução), o legislador
atende os reclamos da população que demanda em todo momento mais aumento da
pena.
Em 1996, pela Lei 9.426, foi criado um novo parágrafo no art. 155 do CP
(§ 5º), com a seguinte redação: "A pena é de reclusão de três a oito anos,
se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior".
O governo do Estado de São Paulo promulgou uma
lei que regulamenta a operação dos desmanches de veículos. Nenhuma delas mudou
a realidade brutalmente criminógena. Aliás, nenhuma lei faz isso, enquanto não
dotada da certeza da sua aplicação (da forma mais justa possível). Em matéria
de prevenção da criminalidade sempre estamos no caminho errado.
O Estado brasileiro
(pluto-clepto-genocidiocrata) não foi desenhado para a prevenção de crimes. E
quem faz o errado o tempo todo não pode esperar que um dia dê certo.
Nem todos os veículos são levados
para o desmanche. Que atende a reposição de peças dos carros mais velhos. Quem
tem carros mais novos (garantia de até três anos, normalmente) sempre vai
preferir a reposição com peças originais. Poucos carros são recuperados no
nosso país. Quando recuperados, muitos são depenados nas próprias dependências
estatais (expressão da cleptocracia, que significa o Estado cogovernado por
ladrões). Por detrás dos furtos e roubos de veículos existem muitos crimes
organizados.
Vários deles com a participação
de agentes de segurança. À malícia e ganância dos criminosos, soma-se a
desonestidade do servidor público. Um livro do século XVII (A arte de furtar)
já dizia que os piores e grandes ladrões são os servidores encarregados de nos livrar
dos pequenos ladrões. Muitos veículos são adulterados e revendidos no mercado
interno.
Grande quantidade deles vai para o exterior (lá são vendidos ou
trocados por drogas ou armas). As fronteiras são transpostas com a mesma
facilidade com que se rouba ou furta. Muitos agentes públicos também participam
dessa operação criminosa (todos enlaçados por grandes organizações criminosas).
O Estado brasileiro fracassou na
sua tarefa de fazer imperar a lei (assim como o constitucionalismo de direitos
e deveres). As leis editadas não são acompanhadas de efetiva fiscalização. As
leis não mudam a realidade quando não são fiscalizadas e aplicadas. Os números
indicam o aumento constante dos roubos e furtos de veículos. Não existe
coordenação das ações de enfrentamento do crime. Não há unificação de
planejamento. São muitas as polícias e pouca política de integração. Pensar que
essa forma de atuação possa dar resultados positivos é uma ilusão. As leis só
configuram obstáculo sério quando imperam. Lei que não impera tem a mesma
esterilidade de um monge virtuoso.
A criminalidade no Brasil tende a
aumentar severamente porque não fazemos as coisas certas. Beccaria já alertava
sobre isso em 1764 (Dos delitos e das penas). Propunha duas coisas: (a) certeza
do castigo, ainda que moderado e (b) reformas socioeconômicas e educativas.
Quem pega o bonde errado, mesmo que veloz, jamais atingirá o destino
pretendido.
2 comentários:
é a falta da certeza do castigo que faz com que a criminalidade aumente cada vez mais. Mesmo os que são punidos, conseguem facilmente reverter a pena, o que faz io crime valer a pena no Brasil.
Postar um comentário