Séculos se passaram
antes que conseguisse abrir escola para todos os jovens
Era uma vez um país quente e muito grande, mas com lastimáveis tradições
educativas. Séculos se passaram antes que conseguisse abrir escola para todos
os jovens. Mas, quanto mais aumentavam as matrículas, abrindo mais escolas, o
número de alunos que ficavam fora aumentava. Foi tão rápido o crescimento de
matrículas que, em dez anos quase triplicou, principalmente o Ensino Médio.
Felizmente, as coisas boas também
acontecem e este país conseguiu levar todos à escola. As escolas cresceram
proporcionais ao crescimento da clientela suprindo a demanda. E o que é que
nenhum Estado deste país fez previsão de número de matrículas de alunos de
Ensino Médio, tampouco previsão orçamentária para suprir a demanda. Mas o
estranho é que as escolas cresceram não sabemos como e o dinheiro para pagar as
contas apareceu. Este país chama-se Brasil.
Era uma vez um país muito frio e pequeno. Há alguns anos o
descontentamento da sociedade contra a educação se exacerbou. Pelo que
noticiava a imprensa, a sociedade achava inadequada a qualidade da educação
oficializada pelo governo. E as queixas da sociedade aumentavam tomando grande
espaço na mídia. Mas alguém abre uma publicação da Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) em que noticiava os resultados
do teste Programa Internacional para Avaliação de Alunos (Pisa) e percebe que a
educação naquele país havia obtido o primeiro lugar no mundo (o mesmo teste em
que o Brasil obteve o último lugar). Esse país chama-se Finlândia. Mas,
pensando bem, o que tem em comum estes dois países? Sim, mostra o poder da
sociedade quando embirra que quer alguma coisa e consegue.
Durante muitos anos, faltavam vagas nas escolas brasileiras, sem que
isso causasse comoção ou maior embaraço para os políticos e administradores.
Mas, com as mudanças tecnológicas na década de 90, os empregos migraram para os
mais educados. Obviamente, todos entenderam que era necessário ficar mais tempo
na escola. As novas levas de graduados do Ensino Fundamental tornaram-se maior
e muitos já formados quiseram voltar a estudar. Políticos e administradores não
ousaram deixar que essa grande massa de alunos ficasse sem vaga na escola e o
dinheiro apareceu.
A sociedade brasileira aprendeu que a vaga na escola é inegociável. Quem
se atreverá a negá-la? Mas, não aprenderam que é crucial uma educação de
qualidade, em que se aprende a ler, escrever e pensar. Por isso, ainda não
temos qualidade. Somente quando o preço político de oferecer educação de baixa
qualidade tornar-se proibitivo é que nossos políticos temerão por suas
carreiras e tratarão de melhorá-la.
Sabemos que os políticos têm excelentes radares, farejam de longe o que
a sociedade quer. Se a demanda não é para valer, fica tudo nos discursos
grandiloquentes. Mas, se a sociedade exige, quer, aí é diferente. Só teremos
educação de qualidade quando a sociedade quiser, pois os políticos e
administradores que não oferecê-la terão perdas políticas temíveis.
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