Alguns acham exagero que, no meu tempo, a
alfabetização se dava na primeira série, assim como o aprendizado básico de
matemática
Vejo a surpresa nos olhos de meus
sobrinhos quando falo que não fiz o "primeiro grau", mas o
"primário". Depois disto, veio a "evolução" que
desestruturou o nosso ensino básico, capitaneado por técnicos da educação que
resolveram tornar mais elásticas as relações entre educador e educando e, até,
a forma de cobrança do seu rendimento.
Infelizmente, isto levou a não ser
surpresa que, hoje, se afirme que uma criança pode ser alfabetizada até a
terceira série, defendida por quem não vê problema que se utilize três anos de
educação para, praticamente, nada, pois a não alfabetização respinga na
capacidade de aprendizado de todas as demais áreas.
Alguns acham exagero que, no meu tempo,
a alfabetização se dava na primeira série, assim como o aprendizado básico de matemática.
E se rodava, isto é, quando não se alcançava os índices necessários, repetia-se
o ano. Por mais que se pense ao contrário, ninguém ficou traumatizado porque
saiu de um primeiro ano reforçado ou, se repetiu, criou bases suficientes para
enfrentar a continuidade do aprendizado.
Recentemente, uma educadora infantil de
Caxias do Sul, aposentada, expressou a minha indignação: disse que não
conseguia entender como se flexibilizava algo que é básico e necessário,
subtraindo uma base fundamental para que o processo de aprendizado possa se
estruturar. Até então, pensei, mas não me posicionei. Agora, é hora de repormos
no lugar as mazelas que estamos enfrentando porque, desestruturado o básico,
nossos problemas vão se avolumando como naquela brincadeira com pedras de
dominó que, ao derrubar uma, o efeito cascata faz uma sequência de quedas que
não pode ser evitada!
Comecei a conversar a respeito e do baú
das lembranças foram sendo resgatadas muitas formas de se solidificar o
processo: meu pai nos cobrava a tabuada enquanto trabalhava em seu armazém e
não tínhamos folga enquanto as continhas não estavam na ponta da língua; uma
professora usava da disputa natural entre meninas e meninos para fazer gincanas
ao final de cada aula, com recompensas que iam de pequenos presentes ao prazer
de superar o sexo oposto! Hoje, ao invés de incentivarmos a criatividade dos
professores em sala de aula temos "técnicos" com fórmulas
indiscutivelmente bem traçadas e dignas de serem apresentadas em simpósios
internacionais, mas com os resultados pífios que vemos para a educação.
Um comentário:
Belíssimo texto! E é bem por aí mesmo, quando eu era criança (e nem tem tanto tempo assim, visto que sou de 88) meu pai disfarçava tabuada de brincadeira e me desafiava o tempo inteiro a acertar as continhas. Minha vizinha, que às vezes cuidava de mim, rasgava as páginas do caderno quando a letra estava ruim ou quando eu apagava várias vezes o mesmo lugar. Aprendíamos nas salas de aula a usar o lúdico, lembro de me divertir na alfabetização tendo que levar toda sexta-feira matérias em revistas mais me interessaram.
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